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Livro infantil ganhou estatuto e já não é um género menor

6 abr 2017 00:00

Dia Internacional: O mercado do livro infantil está em franco crescimento. A escola tem feito um papel fundamental ao incentivar para a leitura e as famílias também já começaram a perceber a importância de ler histórias aos filhos.

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Vários escritores conceituados renderam-se às histórias para os mais pequenos.

Cada vez é mais comum encontrar crianças e pais numa livraria a escolher um livro infantil, um negócio que tem vindo a crescer e que tem levado, inclusive, autores conceituados a dedicar algum do seu tempo a escrever obras para os mais pequenos.

No dia 2 de Abril comemorou-se em todo o mundo o nascimento de Hans Christian Andersen. A partir de 1967, este dia passou a ser designado por Dia Internacional do Livro Infantil, chamando-se a atenção para a importância da leitura e para o papel fundamental dos livros para a infância.

Se antes, para alguns, escrever histórias para crianças era uma literatura de segunda, hoje o livro infantil ganhou estatuto e tem vindo a afirmar-se pela qualidade das obras publicadas.

Luísa Ducla Soares, autora de vários livros infantis, adianta que actualmente “a literatura infantil alcançou um estatuto que antes não tinha, pois era considerada inferior à dos adultos”.

“Hoje temos notáveis escritores deste género literário, vários escritores de adultos que escrevem simultaneamente para crianças e o Plano Nacional de Leitura veio chamar a atenção para a importância de uma leitura de qualidade para crianças e jovens”, acrescenta.

Também José Luís Peixoto afirma que “sempre houve trabalhos de muita qualidade na literatura infantil nacional e internacional”. No entanto, “desde há alguns anos, começou a reconhecer-se de uma forma diferente a importância dessas leituras”.

“Durante muito tempo, alimentou-se o preconceito de que a escrita destinada a públicos mais jovens era um género menor, menos elaborado. Essa, claro, era uma ideia absolutamente errada.”

Esta é também a posição de Alice Vieira, autora de dezenas de livros infanto-juvenis, que considera que os “álbuns para crianças estão a melhorar muito” e que há “histórias muito bem escritas e ilustradas”. “Estamos numa boa fase.”

Mas, na literatura juvenil, público para quem mais escreve, o avanço tem sido menor. “Faz-se muito para os adultos e para os pequenos, mas não me parece que haja muitos avanços” nesta categoria.

Para José Luís Peixoto, a preocupação em relação à qualidade do livro infantil partiu de “uma exigência dos próprios leitores”.

“O nível de escolaridade aumentou muito nas últimas décadas. Os pais de hoje têm uma consciência diferente da importância da leitura nas idades mais jovens. Essa situação trouxe uma magnífica oportunidade para as boas editoras de livros para jovens que têm surgido e, consequentemente, para os bons ilustradores e escritores que também têm desenvolvido trabalho nesta área”, salienta o escritor, autor do livro A mãe que chovia.

Luísa Ducla Soares também entende que hoje os adultos estão “mais sensibilizados”, pois “há mais pais com um grau razoável de cultura e tendo, em média, um ou dois filhos, procuram investir na sua educação”.

A escritora lamenta, contudo, que ainda haja casas “onde os livros não entram por razões económicas, por iliteracia familiar ou outras questões sociais”.

As razões que levaram José Luís Peixoto a aventurar-se na escrita para os mais pequenos não serão “muito diferentes daquelas que levam qualquer outra pessoa a tentar escrever algo nessa área”.

Segundo José Luís Peixoto, “há uma série de ideias estabelecidas acerca daquilo que deve ser um livro dirigido a um público mais jovem” e “esses estereótipos são interessantes de analisar e de trabalhar, colocando-os em causa na maioria das vezes”.

“Esse carácter subversivo, aliás, parece-me ser uma das características mais interessantes deste universo. O estímulo da criatividade é um valor muito caro a este tipo de textos e que, muitas vezes, tem eco numa certa forma delirante como são escritos. Esse, claro, é um apelo irresistível. Quem gosta de escrever, gosta dessa liberdade”, salienta o escritor.

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