Desporto

O pé canhão Isaías à procura de um recomeço em Pombal

25 ago 2016 00:00

É terça-feira. A hora do almoço já passou no restaurante O Pote, a meio caminho entre Pombal e a A1, e Isaías recebe a equipa de reportagem do JORNAL DE LEIRIA de sorriso aberto.

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Marcámos o encontro depois de sabermos que ele estava por lá e não resistimos em ouvir a sua história. O que raio faz ali um dos mais míticos ídolos da história benfiquista?

Parece que foi ontem que peito de galo espalhava o terror entre os guarda-redes com os seus remates fulminantes. No entanto, apesar de manter uma forma física invejável, Isaías já chegou aos 52 anos.

“No Brasil todos os domingos há futebol e eu não paro. Portugal é onde melhor se come na Europa. Estou aqui há um mês, mas já estou doido para fazer alguma coisa. O próprio organismo pede para queimar as calorias.”

Num estabelecimento onde a especialidade é leitão, a vida de quem não quer engordar é difícil. Restaurante que, neste mês que leva de Portugal, foi onde Isaías passou o tempo a ajudar o proprietário e seu amigo de peito.

“Conheço o Sílvio há 30 anos, desde a época em que jogava no Rio Ave. Ele trabalhava no Manjar do Marquês e parávamos lá para almoçar.” “Um dia disse-lhe que ainda ia parar ao Benfica”, completa o Sílvio Ramos.

“Ele respondia que eu era louco. Quando estava no Boavista disse-lhe que já estava mais próximo e ele continuava a chamar- me louco. No dia em que chegou ao Benfica ligou para o Manjar do Marquês – ainda não havia telemóveis – e pediu para falar comigo. Disse-me que eu era vidente, só podia.” E a amizade cresceu. Sempre que vai ao Brasil, Sílvio Ramos fica em casa de Isaías e a lenda benfiquista retribui quando visita Portugal fica em sua casa.

Ainda para mais numa altura sensível como a que atravessa. “Está a passar por uma situação difícil. Já se sabe como é: os jogadores de futebol têm dinheiro, mas quando deixam de ser torna-se complicado. Já não dá para viver do que ganhou, ainda por cima, naquela altura, não se ganhava tanto assim. E os amigos só aparecem quando se tem dinheiro.”

Isaías faz questão de dar uma mão no dia-a-dia do restaurante. “Ele é humilde, até demais”, diz Sílvio Ramos, que considera o craque “um irmão”. “Faz questão de ajudar no que for preciso. Está na copa, lava a loiça, descasca batatas se necessário.”

E claro, funciona como relações públicas. “Os clientes ficam surpreendidos quando o vêem e pedem para tirar fotografias. Ainda hoje é um rei por onde passa. A marca do pé canhão ficou.”

O craque que hoje valeria 50 milhões
“Chutava dez? Não, chutava cem”

Isaías Marques Soares chegou a Portugal em 1987, com 23 anos, para jogar no Rio Ave. A equipa de Vila do Conde desceu de divisão, mas a performance do atleta valeu-lhe a mudança para o Boavista, onde esteve duas temporadas.

Surgiu então novo salto, para o Benfica, onde ficou cinco épocas, conquistou dois títulos nacionais e uma Taça de Portugal. Seguiu-se o Coventry City – foi o primeiro brasileiro a jogar na Premier League –, o Campomaiorense, e os brasileiros Cabofriense e Friburguense, onde terminou a carreira aos 39 anos.

Se fosse hoje, Isaías acredita que o seu passe poderia valer qualquer coisa como “50 milhões de euros”. “Não é ser arrogante, mas vemos jogadores que estão a dar os primeiros pontapés e já valem muitos milhões. Cheguei desconhecido, parecia Cabral quando descobriu o Brasil.

Na época havia muitos jogadores brasileiros, mas todos a nível de selecção, como o Ricardo Gomes, o Mozer e o Valdo. Era um patinho feio, mas hoje, graças a Deus, as pessoas lembram-se mais de mim do que de alguns desses jogadores de selecção”, atirou o ex-atleta.

Com Ricardo Graça

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