Sociedade

Histórias de quem derrotou o cancro

9 fev 2017 00:00

Marine Antunes, Diogo Cruz e Beatriz Barreiro fazem parte dos mais 400 mil portugueses que venceram o cancro. Beatriz conta mesmo com três vitórias.

historias-de-quem-derrotou-o-cancro-5888
Maria Anabela Silva

Há hoje duas datas no calendário que Marine Antunes faz questão de celebrar: o dia do seu nascimento e o dia em que recebeu a notícia de que estava curada de um linfoma. Marine tinha apenas 13 anos quando o cancro lhe foi diagnosticado.

Num primeiro momento reagiu com relativa indiferença. “A minha reacção foi: 'é um tumorzito, passa rápido”. A percepção da realidade chegou no momento do internamento, em Coimbra.

“Ao ver aquelas pessoas sem cabelo,pensei: ou estão todos com problemas capilares ou passa -se alguma coisa. Foi a minha companheira de quarto que me explicou o que estava a acontecer”, conta Marine Antunes, natural de Matas, concelho de Ourém, que recorda a primeira noite de internamento como “a pior” da sua vida. Seria também o momento em que decidiu que iria ser “uma menina bem comportada” e enfrentar a doença com “todas as forças”. E assim fez, tal como a família que assumiu que “o cancro seria um pouco de todos”. “Repartimos o sofrimento e o processo tornou-se menos difícil”.

Foi, aliás, na família e nos amigos que encontrou forças para superar os momentos mais duros, como odia em que lhe caíram as primeiras madeixas de cabelo. “Estava na escola. Refugiei-me na casa-de- -banho a chorar. Quando a minha irmã me foi buscar, levou-me a uma loja de chapéus e disse-me para escolher quantos quisesse. Trouxe um de cada cor, com brincos a condizer”.

O mais difícil de suportar, mais do que as dores físicas, foram as perdas, com a morte de companheiros de quarto e de tratamento. “Vemos todos a partir e nós vamos ficando. Muitas vezes me questionei 'porquê'”. Uma das respostas possíveis poderá estar no trabalho que Marine tem feito nos últimos anos a animar os “carequinhas”.

Depois de, nos primeiros anos pós-doença, se recusar a falar do assunto - “só queria virar a página e ser vista como uma pessoa normal” -, em 2013 decidiu que “não podia fugir da missão” para a qual se sentia destinada.

Criou o blogue Cancro com humor, escreveu um livro, levou aos palcos uma peça infantil e hoje percorre o País, de Norte a Sul, em palestras e sessões onde o humor é a principal ferramenta. No ano passado, levou o projecto ao Brasil e, em 2017, espera chegar a outros países.

“Quando levamos as coisas a rir, tudo corre melhor”, diz a jovem, licenciada em comunicação social que já fez stand up comedy que acredita que “já quebrou alguns tabus”.

A recompensa está em momentos como aquele que viveu na semana passada numa conferência em Estarreja, ao ter na plateia Ana Elisa, “a única companheira de quarto que sobreviveu”, e um casal que conheceu durante uma palestra, quando a filha bebé estava em tratamento, e que fizeram questão de lhe vir mostrar a menina, “a correr e cheia de cabelo”.

“O pior foi contar aos pais”

A sua tendência “casmurra” para não ir ao médico levou-o a ignorar os sinais que o corpo ia emitindo. Até ao dia em que passou um exame da faculdade a coçar-se. De tal maneira que teve cinco de nota, porque “não conseguia escrever”. Percebeu que algo não estaria bem. P

rocurou ajuda médica e, depois de “uma bateria de exames”, veio a confirmação: aos 29 anos Diogo Cruz tinha uma linfoma. Seguiu-se aquele que classifica como “o pior momento” da doença: contar aos pais e tentar “perceber por que raio é que havia células em desalinho” no seu corpo, logo ele que seguia um estilo de vida saudável. Juntou depois os amigos mais chegados, a quem contou o que se passava e que iria precisar deles.

Leia mais na edição impressa ou torne-se assinante para aceder à versão digital integral deste artigo.