Sociedade

Há um mundo para reconstruir em Pedrógão: “precisamos de tudo”

29 jun 2017 00:00

Voluntários e organismos oficiais trabalham lado a lado no terreno. A par do apoio psicológico, há roupa e refeições a chegar a quem precisa. E estão a ser repostas as primeiras infraestruturas.

Fotografia: Ricardo Graça
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Dois homens encontram-se na imitação da normalidade, na aldeia de Figueira, concelho de Pedrógão Grande. Vivem em mundos diferentes, mas estão juntos agora, no lugar onde a solidariedade se cruza com a reconstrução.

Hugo Candeias está a chegar de Lisboa, traz a carrinha cheia de roupa para distribuir pelas vítimas dos incêndios. Ele, a mãe e um tio, impressionados com as imagens que queimam através da televisão.

Chegam e regressam, movidos pela vontade de ajudar. João Dinis Graça é dos que ficam, daqueles que não podem virar costas às cinzas, porque estariam a despedir-se de casa e de uma vida inteira de memórias.

No território em que todos os segundos contam, ele quer voltar a cultivar os quatro hectares de hortas perdidos para as chamas, a recolher lenha para a fogueira no pequeno pinhal, também reduzido a pó e carvão, a beber o vinho produzido no solo amigo, a extrair o azeite das oliveiras de sempre.

“Praticamente ficámos só com a casa de habitação, de resto ficámos sem nada”. Morreram as galinhas e os coelhos, a adega está em ruínas, do tractor e das alfaias agrícolas resta o metal retorcido.

A par do apoio psicológico que está a mobilizar técnicos da saúde e da área social, é urgente avançar no concreto, deitar mãos à obra.

Na aldeia de Figueira, uma equipa do Município do Pedrógão Grande, com o apoio de investigadores da Universidade de Coimbra, percorre as ruas na tentativa de identificar edifícios que representam risco, pela probabilidade de desabarem ou libertarem materiais sobre a via pública.

É um trabalho que varre todo o concelho, depois do levantamento de habitações destruídas e das necessidades de realojamento. Quando se justifica, as máquinas avançam e deitam abaixo o que já não oferece segurança.

Os técnicos chegam à adega de João Dinis Graça e é lá que o ouvimos a contar como salvou a residência da família com baldes de água, quando o fogo já pegava à estrutura de madeira que suporta o telhado da casa.

Roupas e bens alimentares há em quantidade suficiente no terreno, estão a chegar ao destino, tal como as refeições quentes distribuídas porta a porta aos que não podem deslocar-se.

João Dinis Graça encaminha Hugo Candeias para a Associação da Graça no mesmo edifício da Junta de Freguesia, onde funciona uma espécie de armazém improvisado.

“Resolvemos juntar o que pudéssemos e preferimos vir cá para termos a certeza que a roupa chega a quem precisa”. A carrinha oriunda de Lisboa soma mais quilómetros a uma viagem através do vazio pintado de negro, no chão que o IC8 corta a meio.

Passaram pelos camiões que já retiram madeira dos pinhais e eucaliptais ardidos, pelos homens que trabalham para repor a rede eléctrica e as comunicações telefónicas, por todos os pequenos passos que procuram levantar do chão a rotina anterior ao incêndio.

Na Associação da Graça, a alemã Karin Panitz, há 15 anos em Portugal, é uma das voluntárias que continua no activo, semana e meia depois da tragédia que se abateu sobre os concelhos de Pedrógão Grande, Figueiró dos Vinhos e Castanheira de Pera. “Uma mão ajuda a outra”, resume.

Incêndio afectou mais de 300 casas e deixou cerca de 250 sem emprego
O relatório final com o levantamento das necessidades no terreno e dos prejuízos provocados pelos incêndios de Pedrógão Grande e envolvente só será apresentado amanhã.

Mas os dados provisórios já tornados públicos pelas autarquias apontam para mais de 300 casas, total ou parcialmente destruídas, e cerca de 250 pessoas no desemprego, na sequência do estragos provocados pelas chamas em empresas.

Há, no entanto, a vontade de alguns empresários de retomar a actividade e disponibilidade da Comissão Europeia para criar um regime de excepção para repor a capacidade de trabalho nas unidades afectadas.

Só em Pedrógão Grande o número de habitações totalmente destruídas ultrapassará as 200. O número foi avançado à agência Lusa pelo presidente da Câmara, no final de domingo, num momento em que estava ainda a ser concluído esse levantamento.

"É um desastre. (…) As habitações destruídas são muitas. Não poderei dar um número exacto, mas são muitas, para cima de 200 habitações", afirmou Valdemar Alves, que o JORNAL DE LEIRIA não conseguiu contactar até ao fecho da edição.

Por seu lado, Fernando Lopes, presidente do município de Castanheira de Pera, revelou, esta quarta-feira, a existência de 117 casas no concelho que precisam de ser reconstruidas. Os incêndios afectaram também cerca de três dezenas de unidades industriais, que representam mais de 260 postos de trabalho.

Em Pedrógão Grande, a autarquia estima que o incêndio tenha deixado, para já, cerca de 200 pessoas desempregadas. A Enerpellets, que se dedicava à produção de pellets, um combustível natural produzido a partir do aproveitamento de biomassa florestal, foi uma das unidades totalmente destruída pelas chamas, deixando, no imediato, 40 pessoas sem trabalho.

*Com Maria Anabela Silva

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