Sociedade

Há solução e há dinheiro, parece faltar vontade para acabar com a poluição das pecuárias

9 mar 2017 00:00

A obra ainda não começou nem sequer adjudicada, mas a Estação de Tratamentos Efluentes Suinícolas (ETES) já custou mais de dois milhões de euros.

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Maria Anabela Silva

Ainda não há adjudicação e, muito menos, obra feita, mas a Estação de Tratamento dos Efluentes Suinícolas (ETES) do Lis, a construir em Amor, já custou mais de dois milhões de euros.

Os números são assumidos e explicados por David Neves, presidente da Recilis, empresa que detém 100% da Valoragudo, a entidade promotora da ETES.

Em entrevista ao JORNAL DE LEIRIA (ver páginas 6 e 7) o dirigente assegura que, até ao momento, a Recilis recebeu 1,3 milhões de euros de dinheiro público e revela que o processo da ETES já ultrapassou os dois milhões de euros: “739 mil euros para terrenos, 300 mil para estudos e 420 mil para assistência técnica” dada pela antiga Simlis.

A essas verbas, junta-se uma parcela superior a meio milhão de euros investida na ETAR Norte para que a estrutura, construída para esgotos domésticos, pudesse também receber efluentes suinícolas, quer enquanto a ETES não entrasse em funcionamento quer depois, para servir as explorações agro-pecuárias daquela zona.

Só que, apesar de ter capacidade para tratar diariamente até 280 metros cúbicos de efluente, a média diária anda muito longe desse limite, sendo que, ano passado, rondou os 80 metros cúbicos e, segundo dados a que o JORNAL DE LEIRIA teve acesso, houve muitos dias sem qualquer descarga.

Há ainda a somar 2,5 milhões de euros investidos em duas ETAR – Bidoeira e Raposeira – inauguradas em 1994 e que nunca funcionaram em pleno. Isto porque as soluções técnicas adoptadas, com recurso a tecnologias obsoletas e que implicavam custos de exploração astronómicos, acabaram por levar à sua desactivação.

“Gastou-se muito dinheiro e não há solução. É preciso saber para onde foi o dinheiro. Estamos a falar de milhões”, acusa o presidente da Câmara da Batalha, Paulo Batista Santos, que defende o apuramento de responsabilidades, quer através das “instâncias judiciais” quer de uma eventual comissão parlamentar.

Em entrevista ao JORNAL DE LEIRIA, o presidente da Recilis recorda que a Inspecção-Geral de Finanças já fez uma auditoria à empresa e concluiu que “houve uma correcta gestão do dinheiro público”.

Prorrogação é “manobra dilatória”

O líder do município da Batalha está entre os autarcas e ambientalista da região que reagiram sem surpresa a mais um adiamento do início da construção da ETES, prorrogação esta que surge num momento em que, de acordo com o contrato de financiamento, a obra já deveria estar em fase de conclusão.

A Recilis justifica o pedido de prorrogação com a necessidade de “validar” questões relacionadas com a “viabilidade” e “sustentabilidade económica” do projecto, mas o argumento parece não convencer.

Paulo Batista Santos fala em “mais uma manobra dilatória” protagonizada por “quem não quer que a obra se faça” e ameaça mesmo recorrer às instâncias judiciais para apurar responsabilidades, acusando a Recilis de “não querer verdadeiramente resolver o problema”.

Para já, e na sequência da notícia avançada na última edição do JORNAL DE LEIRIA sobre a prorrogação do prazo para o início das obras da ETES, aquele município anunciou que irá solicitar uma reunião “urgente” da comissão de acompanhamento da ETES do Lis.

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