Sociedade

Gonçalo Lopes insiste na construção de um campus de justiça no Dia da Cidade

22 mai 2023 13:13

Presidente da Câmara de Leiria promete ainda "erguer a voz" mesmo contra o governo do partido que o elegeu

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Orlando Cardoso, antigo director do Jornal de Leiria, foi um dos homenageados no Dia da Cidade
Ricardo Graça

O Teatro José Lúcio da Silva engalanou-se para receber a cerimónia do Dia do Município de Leiria, o que não impediu o presidente da Câmara, Gonçalo Lopes, de voltar a reivindicar a construção de um campus de justiça para o concelho e prometeu que irá "erguer a voz" perante o poder central sempre que for necessário defender os interesses de Leiria.

O autarca dirigiu-se a Francisca Van Dunem, ex-ministra da Justiça convidada para o encerramento da sessão, apontando que foi no seu mandato que Leiria teve “oportunidade de abrir um dossiê de grande importância para a região: a criação de um campus justiça”.

“Estamos muito empenhados em tornar esse projecto uma realidade, o que envolve a criação de um masterplan para os terrenos do estabelecimento prisional e património do Ministério da Justiça”, garantiu o presidente, sublinhando que “esta é uma área de enorme importância para o futuro de Leiria, que poderá contribuir significativamente para a resolução de alguns dos desafios”, como o “défice na oferta de habitação, necessidade de crescimento do Politécnico e a garantia de melhores e mais dignas condições para os serviços do Ministério da Justiça”.

Gonçalo Lopes garantiu que não deixará de “erguer a voz” sempre que entender que Leiria “não está a ser alvo do justo tratamento que se exige a esta região, que está na linha da frente na criação de riqueza nacional e na retaguarda na concretização de investimento público do Estado”, apesar de ter sido eleito na lista do PS, partido que governa actualmente o País.

Para o presidente, "a distribuição de recursos públicos não pode continuar a ser aplicada na sua esmagadora maioria em apenas duas grandes aéreas metropolitanas, deixando o resto do país entregue a si mesmo". "Há mais Portugal e mais portugueses para além de Lisboa e do Porto.”

Segundo Gonçalo Lopes, o aumento da imigração é uma "fortuna" para a região e “talvez o maior desafio no presente” e a “maior oportunidade para o futuro”.

Em 2021, os números apontavam para “mais de 7.500 cidadãos estrangeiros, de 96 países”. Números que o autarca admitiu que “pecam agora largamente por defeito”.

“Este repentino crescimento demográfico envolve desafios, resultantes da pressão acrescida sobre as infra-estruturas de prestação de serviço público, seja na educação, no acesso à saúde, na gestão das rodovias e transportes, no acesso ao mercado de trabalho, no apoio social ou no parque habitacional”, constatou, ao afirmar que também “oferece oportunidades de crescimento e de desenvolvimento”.

“Estas pessoas que vivem entre nós, de metade das nacionalidades do mundo, são de uma diversidade notável que temos de saber integrar na nossa comunidade”, acrescentou, ao frisar também que sabe onde está e para onde quer ir.

“A afirmação de Leiria como um concelho com futuro sustentável, em áreas como a mobilidade, habitação, ambiente, economia, assente em elevados patamares de qualidade de vida, seja na saúde, educação, cultura ou desporto” são objectivos bem delineados.

O vereador independente eleito pelo PSD, Álvaro Madureira, alertou para a falta de resposta na saúde e na habitação e pediu maior agilidade burocrática, referindo que a criminalidade em Leiria tem vindo a aumentar. 

“Apelo a mais meios humanos e materiais, polícia nas ruas e amplificação da videovigilância", referiu.

Francisca Van Dunem destaca integração em Leiria

Oradora convidada do Dia da Cidade de Leiria, a ex-ministra da Justiça, Francisca Van Dunem, revelou ter ligações a Leiria por parte da família do marido, cuja mãe, "já falecida, nasceu e viveu a sua infância e juventude, aqui, entre freguesias".

"Os pais da minha sogra, ambos professores primários, foram colocados em Regueira de Pontes e lá viveram quase toda a sua vida de casados. Foi lá que tiveram quatro filhos. Foi lá que escolheram fixar-se, apesar de ambos terem origem em Castelo Branco", contou.

Afirmando que issp demonstra que "os nossos lugares não são definidos pelo território de nascimento, mas recortados na afeição", Van Dunem lembrou que, “tal como os humanos, as cidades nascem, crescem, desenvolvem-se ou definham e morrem”.

“Morrer significa perder os traços que a caracterizam como lugares belos de ver e impossíveis de não amar”, precisou.

Com um discurso focado na democracia e cidadania, a magistrada sublinhou que “a história de Leiria é a história do parlamentarismo português, da ecologia nacional, dos ofícios, do mundialismo e do empreendedorismo nacionais”.

“A realização aqui das primeiras Cortes Plenas, com a participação dos três  grandes grupos sociais, em particular do terceiro estado – onde se incluía o povo – confere a Leiria pergaminhos únicos de democraticidade”, explicou.

Segundo disse, os cidadãos perguntam à sua cidade: “tenho condições para realizar aqui os meus sonhos mais legítimos?” e “Leiria tem sabido responder apropriadamente a essas interrogações” e “tem-no feito porque tem uma comunidade pujante de vida e lideranças mobilizadoras”.

Considerando que as "democracias liberais criaram a expectativa" de que haveria "contratos sociais em que caberial as ambições e anseios legítimos de todos", Van Dunem lamentou que não seja isso que está a acontecer.

"O refluxo trouxe-nos sociedades inquietas, uma inquietação mista de revolta e de decepção. O mundo nunca foi tão rico, mas contrariamente a todas as previsões a riqueza não favorece de modo equitativo todos os grupos sociais" e nem a escola exerce esse papel.

Francisca Van Dunem elogiou ainda o “extraordinário exemplo de inclusão” que o Município de Leiria tem dado na “interação com o estabelecimento prisional, que nasceu como prisão escola”.

“Muitos dos reclusos (…) são jovens dotados e talentosos, a quem a vida não reservou grandes oportunidades. Se sairão, ou não, de lá como membros ativos e atentos aos valores cívicos da nossa comunidade depende também um pouco de nós. A atenção que a autarquia lhes dedica é uma bênção”, acrescentou.