Sociedade

Gabriel Roldão: As receitas do Pinhal de Leiria servem para financiar outros parques

7 abr 2016 00:00

O investigador acredita que a Câmara da Marinha Grande está agora mais receptiva a resolver a degradação da Mata Nacional

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Daniela Franco Sousa

O feriado da Quinta-feira da Ascensão está à porta. De que aspectos da Mata Nacional já não vão as novas gerações poder desfrutar?

As novas gerações perderam a tradição da Quinta-feira da Ascensão, que tinha uma celebração muito característica na Marinha Grande. Toda a gente, indiscriminadamente da sua classe social, se encontrava nos mais diversos recantos do pinhal no exercício de um piquenique comunitário, onde cada um trocava farnel com outro, trocava o copo de vinho, conversa e juntava-se numa comunidade fraterna, aberta e franca. O Pinhal de Leiria oferecia o seu meio ambiente, que funcionava como uma sala de visitas para esta confraternização, e era o chamado “comboio de lata” que transportava as pessoas até à praia. O transporte também se fazia com carros puxados por cavalos e por bois. Isto ainda no meu tempo. Era uma das confraternizações mais interessantes que existiam. A política, após o 25 de Abril, destruiu isso tudo, ou pelo menos grande parte.

Porquê?

Porque os poderes políticos partidários seccionaram essa celebração em guetos. Ainda se faz na mata, mas em “bairros” políticos, com celebrações políticas, com propaganda política, o que criou uma quantidade de famílias dispersas, que até então eram unidas nesta celebração.

Além dos costumes, também o património edificado e a própria floresta mudou...

Fui convidado para tentar criar um movimento de opinião à volta do Pinhal de Leiria, tendo em conta as condições de degradação em que este vai progressivamente andando. E vamos fazendo intervenções públicas sobre o assunto. Uma delas aconteceu a 29 de Setembro, com uma reunião com o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, em Coimbra, onde levámos um caderno com 20 graves problemas que existem na Mata Nacional. Tudo o que nessa altura nos prometeram fazer, como por exemplo limpar as margens das estradas de grande circulação e limpar matos, para evitar propagação de incêndios, nada disso foi feito. Dá-me a sensação de que eles não estão nada dispostos a aceitar as opiniões dos outros. Há um certo complexo de superioridade da parte de quem está nas tutelas desta matéria e daqueles que têm a obrigação social de preservar estes patrimónios. Fizeram várias promessas e chego à conclusão de que não as vão cumprir. Há mais de 110 casas e edifícios dos serviços florestais no Pinhal de Leiria, 95% dos quais completamente degradados e sem possibilidade de recuperação. Porque as casas das Matas foram abandonadas, vandalizadas ou ocupadas por situações completamente inaceitáveis e nunca foram preservadas pelo proprietário. Nessa reunião perguntei ao vice-presidente do ICNF onde é aplicada a receita proveniente do Pinhal de Leiria. O senhor ficou um bocado embaraçado, como é óbvio, porque aqui não fazem investimento rigorosamente nenhum - a não ser pagar os ordenados das poucas pessoas que aqui trabalham – e disse-me que esses eram valores que serviam para financiar a preservação de outros parques florestais do Estado que não têm receita. Como é possível? Como é que podemos preservar de alguma maneira aquilo que é nosso, se as receitas são todas transportadas para outras áreas?

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