Sociedade

Francisco Vieira - “O ensino profissional não pode renegar as suas origens”

24 set 2015 00:00

O director executivo da Insignare, entidade proprietária das Escolas Profissionais de Ourém e de Hotelaria de Fátima, defende que o futuro do ensino profissional “passa pela especialização

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Maria Anabela Silva

Entre 2004 e 2014, o número de alunos no ensino profissional em Portugal passou de 34 mil para quase 178 mil. Que leitura faz destes números?
Quem, como eu, esteve envolvido no ensino profissional quase desde início, só pode olhar para os números com satisfação, sobretudo, porque é um bom modelo de ensino. Permite aos jovens ter um conjunto de conhecimentos académicos para que possam prosseguir estudos superiores, se o desejarem, mas também lhes dá competências profissionais
para integrarem o mercado de trabalho. A meta definida pelos últimos governos é a de ter 50% de alunos em ensino profissional. Temos progredido muito nesse sentido. Por um lado, porque a crise levou muitos jovens a procurarem caminhos que lhes dessem acesso mais rápido ao mercado de trabalho e mais garantias de empregabilidade. Por outro, a abertura das escolas públicas ao ensino profissional também contribuiu para o crescimento
do sector.

A oferta das escolas públicas é complementar ou concorrencial?
As duas coisas. No nosso caso, preparámos-nos atempadamente para essa concorrência. Há um bom relacionamento e articulação entre as Escolas Profissional de Ourém
[EPO] e de Hotelaria de Fátima [EHF] e os outros estabelecimentos de ensino do concelho. O futuro das escolas profissionais passa pela especialização, com a oferta de formação de qualidade em áreas específicas, que garantam empregabilidade.Não poderão responder apenas a pequenos territórios, como os concelhos, mas devem olhar para
o contexto regional. Cerca de 75% dos alunos da EHF residem fora do concelho. Em Ourém, até há três anos, a maioria dos alunos era oriunda do município, mas essa tendência está a inverter-se.

Está ultrapassada a imagem que associava o ensino profissional a alunos com maiores dificuldades de aprendizagem?
Está ultrapassada, mas não devemos ter qualquer receio disso. Hoje, as turmas do ensino profissional são uma mescla de diferentes tipos de alunos. Temos alunos que não gostam
de estar fechados em salas de aula, que preferem praticar e que querem chegar rapidamente ao mercado de trabalho. Temos outros com maiores dificuldades de aprendizagem, mas também há aqueles que estão no profissional por vocação. No curso de cozinha, por exemplo, temos alunos que podiam seguir qualquer área do ensino superior – e muitos vão segui-la -, mas que querem fazer esse curso. O ensino profissional não pode renegar as suas origens. Fomos criados para receber alunos que os outros sistemas de ensino não queriam e temos uma especial apetência para trabalhar
com esses alunos diferentes. Há enquadramentos legislativos para jovens com dificuldades de aprendizagem, que permitem, por exemplo, a redução das turmas. Não aplicamos
isso nas nossas escolas.

Porquê?
Para nós, os jovens são todos iguais. Todos vão fazer o seu percurso. Uns mais  rapidamente, outros mais devagar; uns com melhores notas outros com piores. Alguns nunca concluirão o curso. Mas onde os poderemos ajudar a ter enquadramento profissional, se as suas dificuldades não se enquadram em centros de reabilitação nem nas escolas normais? Não somos esse meio termo, mas aceitamos isso.

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