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Filosofia e literatura, encontro mais que provável, no 'Tabula Rasa'

19 nov 2015 00:00

Duas disciplinas clássicas intimamente ligadas. Se a primeira dá primazia ao ser, ao raciocínio e ao pensamento, a segunda apropria-se da primeira para esculpir sob a forma de pensamento, metáfora, analogia e até comparação a condição e natureza humanas

Eduardo Lourenço será o grande homenageado (Foto: DR)
Eduardo Lourenço será o grande homenageado (Foto: DR)
Eduardo Lourenço será o grande homenageado (Foto: DR)
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Jacinto Silva Duro

Discutir a presença e acção da filosofia sobre a literatura é um dos objectivos do festival literário de Fátima, Tabula Rasa. O evento que começou ontem, com a presença de Miguel Real e D. Ximenes Belo, quarta-feira, decorre na “cidade-santuário” até domingo, dia 22, e marca o arranque das comemorações do centenário das aparições de 1917.
Os temas são tão sérios quanto interessantes, mas a organização, liderada pela Junta de Freguesia de Fátima, revista Nova Águia e Movimento Internacional Lusófono, criou um programa vasto e apelativo, onde não esqueceu sequer os mais novos.
Para as crianças, há um conjunto de actividades de animação infantil denominado Casa da Fantasia, que decorre no Hotel Santa Maria (ver programa em baixo), é certo, mas, ao longo de todo o evento, haverá ainda ainda outros motivos de interesse, como a Feira do Livro, da responsabilidade da Arquivo Livraria, de Leiria.
O momento mais alto está reservado ao ensaísta português Eduardo Lourenço que será o grande homenageado, desta primeira edição, no Hotel Santa Maria, no dia 22, com o Grande Prémio Tabula Rasa para Vida e Obra.
No mesmo dia, no mesmo local, mas um pouco mais cedo, o festival anunciará também os vencedores dos prémio literário Tabula Rasa 2014-2015. Mas isso acontecerá apenas no último capítulo deste festival que tem o apoio do JORNAL DE LEIRIA.
Antes, o programa promete muita discussão, apresentações brilhantes e temas de grande profundidade, sobre literatura, sobre autores, sobre o ser e sobre o conhecimento. O certame literário apresenta um programa virado para a Língua Portuguesa, em todas as suas variantes, idiomas, sotaques e matizes, da Galiza ao Brasil passando pelos PALOP, sem esquecer Macau, Malaca, Goa ou Timor-Leste, e conta com “convidados de peso” como Miguel Real, Jorge Reis-Sá, Delmar Maia Gonçalves, Afonso Cruz, Constança Marcondes César, Pedro Sinde ou João Manuel Ribeiro.
Sophia, Agustina, José Régio, Teixeira de Pascoaes, entre muitos outros autores e a sua relação com variados aspectos da filosofia vão estar sob o foco dos oradores convidados, neste evento que consagra o debate de temas como a poesia e os escritos de Florbela Espanca, Gonçalo M. Tavares, Orwell ou Zygmunt Bauman e terá  lugar em vários espaços da cidade, entreo Hotel Santa Maria, ao Centro de Estudos de Fátima ou  Colégio de São Miguel.
Em todos os dias do festival haverá ainda a apresentação de obras literárias.Por exemplo, hoje, dia 19, às 19 horas, o Centro de Estudos de Fátima recebe O menino que acordava as estrelas, obra com texto de Paulo José Costa e ilustrações Nídia Nair Marques.
Amanhã, à mesma hora, no Colégio de São Miguel, a apresentação será de Nos 100 anos da morte de Sampaio Bruno: revista Nova Águia n.º 16, e sábado, também às 19, revelar-se-ão os Olhares luso-brasileiros, de Constança Marcondes César, e Filosofia, artes e literatura, de Elter Manuel Carlos. “O Tabula Rasa foi um festival montado em tempo recorde.
Quando Vítor Coelho da Silva [autor da ideia do festival] se reuniu comigo pela primeira vez, e me apresentou o projecto em final de Maio, Falou-se em algo que fosse mais do que um festival literário, porque, muitas vezes, os festivais literário têm demasiada 'espuma' e nós queríamos uma coisa com mais espessura e profundidade.

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Programa do Tabula Rasa

Dia 19
Centro de Estudos de Fátima
9:30 horas – Entre literatura e filosofia I
Abel de Lacerda Botelho – Leal conselheiro de D. Duarte: simples literatura ou pura filosofia?
André Barata -A filosofia como género literário
Cristiana Soveral – Fidelino de Figueiredo: da literatura à filosofia
Sofia A. Carvalho – A um morto moldam-se as mãos e o rosto: considerações estético-metafísicas sobre o paroxismo do corpo e a inesgotabilidade da palavra
11 horas – Debate
11:30 horas – Panorama cultural de Angola, Cabo Verde e Galiza (Maria Amélia Barros Dalomba, Elter Manuel Carlos e Maria Dovigo; moderação Alarcão Troni – Sociedade Histórica da Independência de Portugal)
13 horas – Debate
14:30 horas - Panorama Cultural de Macau, Malaca e Brasil (Jorge Rangel, Luísa Timóteo e Constança Marcondes César: moderação José Esteves Pereira – Instituto de Filosofia Luso-Brasileira)
16 horas – Debate
16:30 horas – Panorama cultural de Moçambique, Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe (Delmar Maia Gonçalves, Jorge Queta e Orlando Piedade; moderação Maria Amélia Barros Dalomba – Liga Africana)
18 horas – Debate
19 horas – Apresentação: O menino que acordava as estrelas (texto: Paulo José Costa; ilustrações Nídia Nair Marques)

Dia 20
Colégio de São Miguel
9:30 horas – Entre literatura e filosofia II
Alice Brito – Quando a literatura é a casa da memória e do pensamento
Ana Paula Sousa: Utopia Social e atopia individual. A propósito de Thomas Moore
Fernando Cristóvão: A fé 'unívoca' de Vitorino Nemésio e a 'vaguidade' poético-metafísica de Teixeira de Pascoaes
Joaquim Domingues: Entre José Régio e Álvaro Ribeiro
11 horas – Debate
11:30 horas – Entre literatura e filosofia III
João Manuel Ribeiro – A literatura infanto-juvenil e a filosofia para as crianças: o caso de 'O brincador', de Álvaro Magalhães
Joaquim Pinto – Momentum Persona: contributos da literatura distópica para a filosofia diatópica
Jorge Cunha – A crítica e legitimação da moral em Agustina Bessa-Luís
Jorge Reis-Sá – Os Institutos de Antropologia
13 horas – Debate
14:30 horas – Entre literatura e filosofia IV
José Gama – Entre Teixeira de Pascoaes (Marânus) e Leonardo Coimbra (A alegria, a dor, e a graça): Sombra e luz da razão filosófica
Manuel Cândido Pimentel – A Utopia, de Thomas Morus e a história do futuro, do padre António Vieira
Maria Celeste Natário – Entre Vergílio Ferreira e Clarice Lispector
Maria Luísa Malato – Logoterapia, a terapia do discurso: entre V. Frankl e Camus
16 horas – Debate
16:30 horas - Entre literatura e filosofia V
Maria José Maya – A filosofia de Alberto Caeiro
Pedro Sinde – Da senhora da noite à senhora vestida de sol
Pedro Vistas – Da essência da poesia. O Livro do Desassossego como experiência ontopoética
Samuel Dimas – Numa 'frescura de asas' para o além tempo de Deus
18 horas – Debate
19 horas – Apresentação: Olhares luso-brasileiros, de Constança Marcondes César; Filosofia, artes e literatura, de Elter Manuel Carlos

Dia 21
Hotel Santa Maria
9:30 horas - Entre literatura e filosofia VI
Afonso Cruz – Uma experiência com o tempo
Ana Cristina Silva – Uma visão psicanalítica da poesia de Florbela Espana
Annabela Rita – Sophia: o verbo filosófico
António Pacheco – Gonçalo M. Tavares e Zygmunt Bauman: o fragmento literário e a vida fragmentada
11 horas – Debate
11:30 horas - Entre literatura e filosofia VII
Carlos Leone – Entre Orwell (1984) e Sottomayior Cardia (Socialismo sem dogma)
Cristina Carvalho – Antígona: a razão da tragédia/a tragédia da razão
Fernanda Bernardo - Perdão por não me querer dizer… A literatura da Bíblia a Kafka e Derrida
Fernando Gebra – Alfredo Guisado e Clément Rosset nas encruzilhadas de seus duplos
13 horas – Debate
14:30 horas - Entre literatura e filosofia VIII
Isabel Fidalgo – A filosofia existencialista e o romance Aparição, de Vergílio Ferreira
Isabel Ponce de Leão – Previvendo a morte – Torga e Unamuno
José Carlos Pereira – Desespero: a doença mortal, de Kierkergaard, e a génese de Lamentais vós as sombras, de Francisco Milheiro
Luís Lóia – Leituras ou releituras da República, de Platão
16 horas – Debate
16:30 horas – Entre literatura e filosofia IX
Luísa Janeirinho – Livros sentidos, para uma hermenêutica da vida
Maria João Carvalho – O homem e os Bichos de Miguel Torga
Marta Duque Vaz – As pessoas felizes e o desespero humano ou Agustina versus Kierkergaard
Vera de Vilhena – A escrita como interrogação
18 horas – Debate
18:30 – Momento cultural
19 horas – Apresentação: Nos 100 anos da morte de Sampaio Bruno: revista Nova Águia n.º 16

Dia 22
Hotel Santa Maria
9:30 horas – Entrega de Prémios Tabula Rasa 2014-2015
9:45 horas – Literatura infanto-juvenil
Justificação – Pedro Teixeira Neves
10:15 horas – Poesia
Justificação – António José Borges
10:45 horas – Ficção
Justificação – António Ganhão
11:15 horas – Filosofia
Justificação – António Braz Teixeira
11:45 horas – Grande prémio Tabula Rasa Vida e Obra: Eduardo Lourenço
Justificação Miguel Real
12:15 horas – Intervenção Eduardo Lourenço
Moderação: Francisco Moita Flores (Sociedade da Língua Portuguesa)
12:45 horas – Encerramento do Festival
15 horas – Festa lusófona – Projecto Uno, por Éter Produção Cultural


Casa da Fantasia
Público Infanto-juvenil

Dia 21
Hotel Santa Maria
9:30 horas – Acolhimento das crianças
10 horas – Oficina de filosofia – Filosofar a brincar
(baseada nos livros Por que é que vou à escola? Por que é que não posso fazer o que quero?, de Oscar Brenifier)
11:30 horas – Oficina de ilustração com Danuta Wojciechowska
14:30 horas – Acolhimento das crianças
14:45 horas – Oficina de introdução à magia
16:30 horas – Hora do conto com o livro O sapo apaixonado, de Max Velthuiss
17:30 horas – Oficina de origami – Brincar com o papel
18:30 horas – Apresentação do livro A senhora Clap e o mundo na palma das mãos, de Marta Duque Vaz e Alexandre Esgaio

Dia 22
Hotel de Santa Maria
9:30 horas – Acolhimento das crianças
9:45 horas – Hora do conto, com o livro Feliz Natal Lobo Mau, de Clara Cunha, seguido de oficina de fantoches, a partir das ilustrações do livro e dramatização em fantocheiro
11:30 horas – Oficina de ciência a brincar
12:30 horas – Oficina de rabiscos e pinturas, partindo do livro Desenhos, Rabiscos e Pinturas, da Edicare
15 horas – Festa lusófona – Projecto Uno, por Éter Produção Cultural