Sociedade

Faltam 13 nutricionistas nos centros de saúde da região de Leiria

25 out 2018 00:00

A obesidade é um dos principais problemas do século XXI. Em Portugal, que se estima que tenha metade da população com excesso de peso, faltam nutricionistas nos centros de saúde.

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O Agrupamento de Centros de Saúde do Pinhal Litoral (ACeSPL) tem um nutricionista a meio tempo para cerca de 267 mil utentes nos concelhos de Batalha, Leiria, Marinha Grande, Pombal e Porto de Mós.

O Governo lançou recentemente um concurso para o preenchimento de 40 vagas, sendo que apenas uma será destinada à região. A Ordem dos Nutricionistas defende um rácio de um especialista para cada 20 mil utentes. Ora, Leiria fica muito aquém deste número. Para garantir uma prestação de cuidados com um apoio significativo de especialistas na área, o ACeSPL necessitaria de 13 nutricionistas.

Pedro Sigalho, director executivo do ACeSPL, admite que um nutricionista a meio tempo é “manifestamente insuficiente”. “Numa primeira fase, se tivéssemos um nutricionista por cada concelho, daria para iniciar todo um trabalho de avaliação de necessidades que certamente levaria a aumentar o número de profissionais de acordo com as necessidades detectadas”, assume, ao afirmar que o rácio avançado pela Ordem dos Nutricionistas depende da avaliação da cada região e “dos projectos da tutela”, que “poderão levar a maiores necessidades”.

Outubro é o mês dedicado à alimentação e às patologias associadas. No dia 16 assinalou-se o Dia Mundial da Alimentação e no dia 11 foi comemorado o Dia Mundial da Obesidade. O excesso de peso e a obesidade são um dos desafios da saúde pública do século XXI.

Segundo o último estudo português, do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto, estima-se que, em Portugal, mais de metade da população tenha obesidade ou pré- -obesidade. Mas o excesso de peso não é o único problema que necessita da intervenção dos nutricionistas. Há também problemas relacionados com as doenças associadas à alimentação e até desnutrição.

Fernando Costa, dietista especialista da Unidade de Nutrição e Dietética (UND) do Hospital Distrital de Pombal, do Centro Hospitalar de Leiria (CHL), explica que o nutricionista intervém “na melhoria da qualidade de vida em indivíduos com obesidade, na redução do peso e na prevenção da doença”.

O principal método passa “pelas boas práticas alimentares, sempre que tal seja exequível do ponto de vista sócio-económico, bem como da saúde global, física e mental, participando em equipas multidisciplinares, com vista a um diagnóstico abrangente do estado clínico de cada paciente”.

O CHL tem sido o local para onde os médicos de família encaminham os casos problemáticos, tendo seis nutricionistas, um deles em permanência no hospital distrital de Pombal. Graça Medina, coordenadora da UND, revela que “entre Janeiro e Setembro de 2018 foram realizadas 2.795 consultas médicas e não médicas no âmbito do Serviço de Nutrição e Dietética, e em 2017, no mesmo período, 2.552 consultas”.

No entanto, a especialista adverte para a “grande lista de pedidos de consulta de Nutrição, que não se centra apenas nos problemas de obesidade, mas em qualquer outra patologia em que a nutrição possa ter influência para a recuperação”.

Considerando que o dietista/nutricionista é o profissional de saúde “melhor preparado para auxiliar na reversão desta pandemia do século XXI”, Fernando Costa constata que além das medidas preventivas, este profissional “permite despertar o interesse e ampliar o conhecimento dos indivíduos face à importância da adopção de hábitos alimentares saudáveis, para que, desta forma, seja exequível a redução da prevalência de doenças relacionadas com a alimentação”, entre as quais a diabetes, hipertensão arterial, dislipidemia, outras doenças metabólicas, respiratórias, cardiovasculares, ósseas e vários tipos de cancros.

Segundo os dados da Direção-Geral da Saúde (DGS), mais de dois milhões de pessoas têm pré-diabetes, e cerca de 44% das pessoas com diabetes ainda estão por diagnosticar, alerta Raquel Oliveira, nutricionista do CHL.

Estima-se que a prevalência da diabetes na população portuguesa, com idades compreendidas entre os 20 e os 79 anos, se situe nos 13,3%, ou seja, mais de um milhão de portugueses, sendo que morrem entre 10 a 12 portugueses por dia pela diabetes. “Face a estes dados, é compreensível a importância da intervenção nutricional na diabetes.”

Ângela Carvalho, nutricionista do CHL, acrescenta que também as grávidas devem ter atenção à alimentação para evitar a diabetes gestacional. “Pretende-se adequar a alimentação à fase em que se encontra, estimular hábitos de actividade física adaptada, sempre tendo em vista o melhor controlo metabólico, desmistificando muitos conceitos criados à volta da alimentação na diabetes e também na gravidez.”

O objectivo será sempre a “aquisição de hábitos alimentares adequados a longo prazo e não só nesta fase, até pelo risco de desenvolver diabetes num período pós-gravidez, aproveitando este período sensível de maior adesão aos ensinamentos apresentados”.

Raquel Oliveira informa que o padrão alimentar habitual constitui, de acordo com a OMS - Oganização Mundial da Saúde, um dos principais factores determinantes passíveis de modificação na prevenção e tratamento de doenças crónicas não transmissíveis, sendo que “a terapêutica nutricional é fundamental na prevenção e tratamento da diabetes” e “nas complicações associadas a esta patologia”.

Sendo um problema que contribui para um aumento significativo dos custos do Serviço Nacional de Saúde, a aposta deveria ser na prevenção e no tratamento imediato. Consciente da importância dos nutricionistas e, sobretudo num momento em que se estima que “mais de 50% da população mundial poderá ser obesa em 2025”, Pedro Sigalho garante que uma das reivindicações junto do Ministério da Saúde tem sido aumentar o número destes profissionais nos cuidados de saúde primários, onde os problemas são inicialmente detectados.

CHL dá resposta aos cuidados primários
É o CHL que acaba por dar resposta à maioria dos problemas relacionados com a alimentação. No Serviço de Endocrinologia e Nutrição, foi criada, há cerca de um ano, uma consulta de obesidade, tendo sido realizadas até ao momento 223 consultas, correspondendo a 153 doentes.

“Tendo em conta as necessidades nesta área, a ideia é aumentar o número de consultas, promovendo o tratamento da obesidad

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