Sociedade

Faleceu Vasco Oliveira, ex-autarca de Caldas da Rainha

25 nov 2015 00:00

Vítima de doença prolongada.

Ex-presidente da Junta de Freguesia de Nossa Senhora do Pópulo, Caldas da Rainha, Vasco Oliveira faleceu esta quarta-feira, vítima de doença prolongada. O antigo autarca foi também comerciante, futebolista, treinador e dirigente associativo. A columbofilia era outra das suas paixões.

Em Julho deste ano, a jornalista Maria Anabela Silva foi conhecê-lo melhor:

Quando olha para trás e faz uma retrospectiva de 76 anos de vida, a primeira palavra que lhe ocorre é “dedicação”. Dedicação ao futebol, à columbofilia, ao associativismo e à actividade autárquica. Vasco Oliveira, que durante 28 anos liderou a Junta de Freguesia de Nossa Senhora do Pópulo, em Caldas da Rainha, nasceu em Silves, Algarve, mas cedo se mudou para a região.

Primeiro para Porto de Mós, onde o pai trabalhou na Empresa Mineira do Lena. Depois para Caldas da Rainha, que hoje considera a sua terra. Foi aí que concluiu a instrução primária, fez o curso de electricista e começou a dar os primeiros pontapés “a sério” na bola como jogador das camadas jovens do Caldas Sport Clube, que representava quando o Benfica o levou para a sua equipa de juniores.

“Certa tarde, quando estava no café, fui abordado por uma pessoa ligada ao clube. Pensava que ia a Lisboa fazer um treino e à noite voltava. Mas não. Fiquei logo instalado. Naquele tempo os contactos eram difíceis e a família ficou aflita”, recorda o antigo atleta, que esteve apenas seis meses no Benfica. “Era menino da mamã e não me adaptei a Lisboa.” Na época seguinte, regressou ao Caldas.

A carreira de futebolista seria interrompida quando, aos 19 anos, decidiu candidatar-se à marinha mercante. “Não sabia ao que ia. Só conhecia as bateiras de Foz do Arelho, mas dois colegas que se tinham candidatado desafiaram-se. Acabei por entrar e eles não”.

Andou cerca de dez anos embarcado em petroleiros, bacalhoeiros e paquetes de cruzeiro - onde trabalhava como electricista, -, com algumas interrupções pelo meio. “Andava um ano no mar e passava depois uma temporada no Caldas. Essa vida era boa, mas quando se casa e se tem filhos é difícil. Abandonei o mar e estabeleci-me nas Caldas, onde abri uma loja de venda e reparação de electrodomésticos.”

Deixou o mar, mas não o futebol, que jogou até aos 38 anos. O momento mais alto foi quando o Caldas jogou na primeira divisão, no final da década de 50 do século passado. Passaria ainda por vários clubes da região e abraçaria as funções de técnico e de dirigente. “No Caldas fui jogador, treinador, director e presidente da Direcção e da Assembleia Geral [ainda mantém este último cargo]”, recorda.

A par do futebol e da actividade comercial, Vasco Oliveira cumpriu sete mandatos como presidente da Junta de Nossa Senhora do Pópulo eleito pelo PSD, partido no qual se filiou no dia em que morreu Sá Carneiro. “Foi uma pequena homenagem que quis fazer a um homem que admirava.” Ficaria na junta 28 anos. Hoje, reconhece que “foi tempo de mais”, mas assegura “não ter ganhado vícios” e confessa-se “orgulhoso” da obra que fez.

“Estive sempre ao lado da população mais carenciada. Meti iluminação pública, água e luz em bairros sociais. Fiz dois polidesportivos que têm muito uso e reparações em escolas. Montámos ainda uma oficina domiciliária, com um técnico que vai a casa de pessoas idosas e carenciadas fazer pequenas reparações”, enumera o antigo autarca, ligado também à fundação da Anafre (Associação Nacional de Freguesias).

“Nos primeiros tempos, de oito em oito dias estávamos na Assembleia da República a reivindicar. Conseguimos que as verbas para as juntas viessem directamente para as freguesias e um reforço de competências”, conta, lembrando a relação “nem sempre fácil” com Fernando Costa, antigo presidente da Câmara de Caldas da Rainha. “Andávamos sempre às turras. Eu queria mais dinheiro e mais competências, mas ele teimava em não descentralizar.”

A columbofilia é outra das suas paixões e à qual se dedica há mais de seis décadas. “Quando tinha 12 anos, fui visitar os meus tios a Porto de Mós. Deram um casal de borrachos, que trouxe para as Caldas dentro de um caixas de sapatos. A paixão ficou. É o meu hobbie e um dos meus amores.”

Homenageado em Maio com a Medalha de Mérito Cívico, Desportivo e Comercial, Vasco Oliveira enfrenta agora a mais dura das batalhas: um cancro na próstata, que reapareceu cinco anos depois. “Vou continuar a lutar para conseguir a melhor finta da minha vida: vencer o cancro”.