Sociedade

Ex-sem-abrigo e outras vítimas de discriminação criam peça de teatro

3 jun 2017 00:00

Projecto desenvolvido no âmbito do núcleo de Leiria da Rede Europeia Anti-Pobreza.

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Maria Anabela Silva

Sandra e Jorge viveram anos na rua. Foram sem-abrigo, tiveram problemas de toxicodependência e sobreviveram como arrumadores de carros. Entretanto, conseguiram refazer a vida. Apaixonaram-se um pelo outro. Deixaram a rua. Livraram- se do vício, mas não do preconceito.

O “rótulo da discriminação” continua ainda a marcá- -los. A eles e a Rui Maria, também antigo sem-abrigo, e a Alice Catarino, desempregada de longa duração.

Os quatros integram o elenco da peça de teatro Despir os preconceitos, Vestir a inclusão, que está a ser desenvolvida por elementos ao Conselho Local de Cidadãos do Núcleo Distrital de Leiria da EAPN – Rede Europeia Anti-Pobreza e que será apresentada este domingo, no Museu de Leiria, a partir das 15 horas.

O objectivo da peça é “desconstruir preconceitos”, através de mensagens que alertam para a importância da não discriminação, explica Patrícia Grilo, técnica daquele núcleo.

A peça nasceu no âmbito da campanha com o mesmo nome, criada pelo Núcleo Regional do Centro da EAPN, que abrange seis distritos, e que pressupõe o envolvimento dos estabelecimentos de ensino e de cidadãos em situação de exclusão apoiados pela EAPN.

Perante as dificuldades que sentiam em “ir às escolas e falar”, os elementos de Leiria tiveram a ideia criar uma peça de teatro infantil, com o apoio de Laura Perdomo, professora na SAMP (Sociedade Artística e Musical dos Pousos). A encenadora conta que chegou ao projecto desafiada por uma amiga, que faz voluntariado no núcleo de Leiria da EPAN e que a experiência tem sido “muito gratificante”.

“Hoje, uma das coisas que mais prazer me dá é vir trabalhar com estas pessoas. Não têm experiência de representação, mas são muito espontâneas e genuínas”, diz Laura Perdomo, frisando que o texto foi criado com a ajuda dos protagonistas e nasceu das suas histórias e das suas experiências.

“Todos nós já fomos vítimas de discriminação”, revela Sandra Menino, que na peça representa, entre outras personagens, a Júlia, uma menina que sonhava ser carpinteira, um desejo contrariado pela família porque “essa não é uma profissão de mulheres”.

Do enredo, faz ainda parte Hilário, um idoso para quem o filho nunca tem tempo, e Ernesto, um menino com quem a mãe “nunca brinca” porque tem “tantas outras coisas para fazer”.

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