Sociedade

Equipa de investigadores está a remover ratos e chorão das Berlengas

31 jul 2017 00:00

No Verão, há dias em que mais de mil visitantes procuram a ilha, que faz parte da Reserva da Biosfera da UNESCO, criando um problema grave para a preservação do local.

No âmbito do Dia Nacional da Conservação da Natureza, que se celebrou no dia 28, o programa Life Berlengas revelou os principais resultados de um trabalho que dura já há três anos e está a proporcionar a oportunidade de o público ver, em tempo real, o desenvolvimento de uma cagarra bebé, na ilha da Berlenga, nascida no dia 17 de Julho.

Clique
AQUI para ver a transmissão.  

Remover perigos para as espécies autóctones
A ilha principal tem agora uma nova sinalética, trilhos recuperados e um novo Centro de Visitantes, o chorão, espécie vegetal invasora, foi retirado de muitos locais e há mais plantas nativas a crescer, há melhor informação sobre as aves marinhas que por ali se reproduzem e uma câmara online a filmar dia e noite um ninho de cagarra e outro de galheta, alternadamente.

Ao longo dos últimos três anos, a equipa liderada pela Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA) em parceria com o Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), a Câmara Municipal de Peniche, a Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (FCSH) e a Escola Superior de Turismo e Tecnologia do Mar do Instituto Politécnico de Leiria (ESTM) trabalhou para compreender as principais ameaças que afectam os valores naturais das Berlengas, em terra e no mar, e definir estratégias para as minimizar e erradicar.

Pretende-se ainda promover a utilização sustentável da ZPE das Ilhas Berlengas, focando três actividades-chave: a pesca, actividades recreativas e turismo.

O projecto é financiado pelo programa LIFE e pelo Fundo Biodiversidade.

Erradicar o rato preto e outros invasores e ajudar as aves

A ilha da Berlenga sempre se destacou pela sua mística, biodiversidade e beleza. Contudo, devido à acção humana ao longo dos tempos, foi perdendo alguns dos seus valores naturais. O Life Berlengas surgiu para devolver à ilha essas características e torná-la mais próxima do que já foi outrora.

Entre as acções também em desenvolvimento, está a remoção do rato-preto da ilha, uma espécie introduzida que tem causado impacto nas espécies nativas e desequilíbrio do ecossistema, a remoção de mais de 50% do chorão que cobria a ilha (a área já removida à mão é equivalente a quase dois campos de futebol).  

O chorão, introduzido outrora pelo Homem, cobria as encostas da ilha, travando assim o crescimento das plantas nativas. O resultado da remoção tem-se traduzido numa recuperação de espécies nativas como erva-vaqueira-ibérica ou a escrofulária. Esta acção tem envolvido dezenas de voluntários, de várias nacionalidades, tendo passado mais de 150 pessoas pela Berlenga.

Para Joana Andrade, coordenadora do Life Berlengas e do Departamento de Conservação Marinha, “trabalhar com os professores e crianças das escolas de Peniche tem sido também bastante gratificante para a equipa do projecto. Durante o ano lectivo que agora termina, a equipa promoveu a participação de alunos do 5.º ano e o resultado final foram 60 trabalhos manuais incríveis, com modelos sobre o arquipélago das Berlengas e as suas espécies, que estiveram expostos no Centro Cultural, em Peniche.”

Os pescadores são um dos grupos-alvo mais importantes com quem a equipa tem trabalhado. Foi com base nesse trabalho conjunto que foi possível colocar painéis de contraste nas redes de emalhar em quatro barcos de pesca, com o objetivo de reduzir a captura acidental de aves marinhas que é comum nesta área.

Mas ao longo destes três anos, surgiram também dificuldades, que felizmente foram sendo ultrapassadas. A forte oposição à acção de remoção das espécies exóticas, que chegou a envolver acções judiciais, foi uma das principais. “Contudo, no final a decisão foi sempre favorável ao projecto, não tendo estes percalços causado atrasos na execução das acções em curso.”

Outra das acções pioneiras do projecto foi a colocação dos primeiros GPS loggers em galhetas, com o intuito de recolher mais informação acerca da sua distribuição e ocorrência no mar, mas pelo facto dos seus ninhos serem localizados em locais de difícil acesso e destas aves serem muito esquivas, este trabalho não tem sido nada fácil.

Tem sido também um desafio ajudar as principais plantas endémicas da ilha a proliferar, tentando produzi-las em laboratório. A mais visível e carismática - a armeria-das-berlengas, revelou altas taxas de contaminação e mostra taxas de germinação muito baixas, o que significa que o futuro da espécie está em perigo. Com as outras duas espécies endémicas, os resultados são mais encorajadores.

A taxa de visitação da ilha é também um problema com difícil resolução à vista. Em alguns dias do Verão são contabilizadas mais de mil pessoas na ilha o que pode trazer não só problemas de segurança devido à elevada concentração em alguns locais, mas também dificuldades na gestão de resíduos e saneamento.

De acordo com Joana Andrade, “este projecto tem revelado aspectos muito positivos, como a melhoria das condições de habitat para as espécies mais vulneráveis, o importante apoio dos vários agentes envolvidos na discussão do futuro e gestão desta área, a abertura dos pescadores para encontrar soluções para reduzirmos as capturas acidentais, e o fantástico trabalho de todos os parceiros do projecto, que tem sido fundamental para a boa execução do mesmo”.

Mais informações sobre este projecto podem ser consultadas AQUI.