Entrevista

Entrevista | Octávio Ferreira: "É o primeiro aceiro onde se podia fazer alguma coisa, com o fogo de Sul para Norte. Só que não estava limpo"

23 set 2018 00:00

O Plano de Gestão Florestal do Pinhal de 2010 estava aprovado, mas não estava a ser executado.

O incêndio de 15 de Outubro podia ter sido evitado?
Desde logo temos de perceber que o fogo é inimigo da floresta e nos espaços florestais não pode haver qualquer tipo de lume. O problema principal é que não pode haver tantas ignições. Em segundo lugar, quando acontece uma ignição, a floresta tem de estar preparada. Esta Mata Nacional tinha um Plano de Gestão Florestal aprovado, só que não estava a ser executado. Em que se dizia e previa o que se tinha de fazer em termos de gestão e de prevenção de incêndios. Só que, depois, na prática, não estava a ser executado. Sabemos que os incêndios correm, no nosso litoral, de Norte para Sul, preferencialmente, ou de Sul para Norte. Se, perpendicularmente, houver faixas limpas de combustível, quando eles ali chegam perdem intensidade. Mais: permitem que se ponham contrafogos de forma mais segura, porque os aceiros estão orientados de Nascente para Poente e muitos têm estradas. Defendo há muitos anos que nesses aceiros deviam existir faixas de gestão de combustíveis limpas periodicamente. Só um cego é que não via a solução.

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Nesse dia registaram-se condições meteorológicas excepcionais. Era possível ter contido as chamas mais cedo?
No aceiro S, que começa no Brejo de Água e vai para Água de Madeiros, se for ver o Plano de Gestão Florestal de 2010 aprovado, tem uma faixa primária de gestão de combustível. Não estava lá no terreno. Ou seja, devia estar ali uma faixa limpa de matos com 120 metros de largura. É o primeiro aceiro com estrada e onde se podia fazer alguma coisa, com o fogo de Sul para Norte. Só que não estava limpo. E depois também não havia os meios necessários, não havia meios aéreos, uma série de complicações. Deu no que deu.

Acredita na tese de fogo posto?
As grandes empresas, que uma televisão indicou como sendo as autoras do fogo, que compram madeira na Mata Nacional, compram cá madeiras há mais de 40 anos. Ao fim deste tempo é que resolveram pôr fogo à Mata? E para o ano que madeira é que têm para laborar? Não têm. Portanto, não acredito que alguma grande empresa que compra aqui madeiras quisesse acabar com o seu negócio.

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Mas é verdade que alguns leilões de madeira ardida nas matas nacionais não têm ficado preenchidos, ou seja, não tem sido comprada toda a madeira colocada a leilão.
Veja, aqui nas matas nacionais do litoral temos no mercado para vender a madeira que iria ser cortada nos próximos 20 a 30 anos. E como tal é natural que os preços baixem. Por um lado, de facto, há muito oferta, os preços caem, por outro lado, as empresas não têm capacidade para de repente absorver tudo isto. O que é lamentável. Porque há aí madeira de pinheiro bravo de pé, queimada, de primeiríssima qualidade, que não se encontra em mais lado nenhum no País, proveniente de árvores direitas, grossas e altas.

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