Entrevista

Entrevista | Beatriz Jordão: “O meu plano perfeito é ir para South Florida e depois ser escolhida para jogar na WNBA”

26 jul 2018 00:00

O que há muito se preconizava tornou-se realidade no final da semana passada, com a confirmação de que a basquetebolista de Matos do Carriço vai jogar numa importante universidade norte-americana.

A mala está feita?

É um caso que me tem vindo a preocupar. Estou a tratar do visto, porque tenho de estar em Tampa a 11 de Agosto, já está quase. Devo viajar a 9 ou a 10, ainda estou a ver a melhor opção. Se pudesse, levava tudo, mas precisava de quatro ou cinco malas. Tendo em conta que vou para a Florida, um sítio com praia, sempre de muito calor, vou excluir as roupas de Inverno. São peças mais grossas, não vale a pena ocuparem espaço. Tenho de pensar que eles fazem sempre muitas cerimónias e por isso tenho de pôr uns vestidinhos e uns sapatos. Não vou levar muita roupa desportiva, porque vão dar-me tudo. Depois, quero levar recordações, muitas fotografias, porque vou lá viver quatro anos e tenho de decorar o meu quarto, que vai ser só para mim.

Ir jogar para o campeonato universitário norte-americano (NCAA) é, provavelmente, o sonho de qualquer basquetebolista.

Claro que sim. Soube três dias antes de acabar o Europeu, mas, naquele âmbito, não fazia sentido divulgar a informação. Tudo isto é um processo longo e complicado. Não basta ter qualidades como basquetebolista para conseguirmos a bolsa. Também temos a parte escolar, que é muito importante para eles. Para ir jogar para a NCAA tenho de ser admitida na faculdade, que nada tem que ver com a aptidão para o basquetebol, e quanto melhores notas tiver em Portugal, menos preciso de ter nos exames deles. Mas é confuso, por causa da tradução de notas. Há muitas regras. Tive de enviar todas as minhas notas, dos 9.º ao 12.º anos e eles fazem a média com a nota do exame American College Testing (ACT), que era o resultado que me faltava saber e que me permitiu entrar na faculdade.

Foi a Beatriz que escolheu a University of South Florida ou foram eles que a escolheram a si?

O recrutamento habitualmente começa nos Campeonatos da Europa de sub-16, onde há uma bancada cheia de autênticos espiões americanos. Em 2015 fomos vice-campeãs europeias e logo a seguir tornei-me júnior, que é o escalão em que eles já podem falar connosco. Recebi mensagens, muitas mensagens. Tive o privilégio de receber vários convites para integrar programas de várias universidades. Acabei por escolher South Florida, porque houve dois aspectos que me chamaram a atenção. Em primeiro lugar, porque tem muitas atletas europeias e, assim, o basquetebol não se torna tão americanizado, que é mais físico e explosivo. O jogo europeu acaba por ser mais táctico, mais inteligente. Ali, vou poder conciliar as duas vertentes. Aquela faculdade tem outra coisa boa, pois joga lá uma portuguesa, a Laura Ferreira. Vai ser importante na minha adaptação.

Já falou com o seu novo treinador, o senhor Jose Fernandez?

Já, sim. Aliás, ele esteve presente em Sopron, na Hungria, durante o Europeu de sub-20. Foi lá ver quatro jornadas, que é o máximo a que podem assistir. É mais uma das muitas regras da NCAA e quem não as cumpre tem sérios problemas. As universidades têm x tempo para falar com os atletas, depois há um período em que não podem falar com os atletas, só podem ver quatro jornadas do Europeu e depois têm de ir embora. É muito exigente e, se alguém infringe, a NCAA descobre logo. Por exemplo, quem é profissional não pode ir para os Estados Unidos. Para eles, se recebe alguma coisa, é profissional. E se é profissional, não pode entrar no programa.

Mostraram sempre interesse em si?

Vieram visitar-me três vezes. Tem sido um processo longo, porque já era para ter ido no ano passado, só que tive uma lesão bastante complicada na tíbia, fui operada duas vezes, e decidi ficar mais um ano em Portugal. Podia não correr bem e 'rifarem-me' e vez. É algo que pode acontecer e partimos sempre com esse medo, porque não sabemos bem ao que vamos. Sempre me disse que, para ele, o importante era que eu estivesse bem e, depois, logo iria. Acredita que vou ser uma ajuda bastante importante no grupo, pelas características que tenho. E que me vou dar muito bem, pela pessoa que sou. A verdade é que me dou bastante bem com novas experiência, porque estou habituada a isso desde os meus 14 anos, quando saí de casa dos meus pais para ir residir para o Centro de Alto Rendimento (CAR) do Jamor. Estão desejosos de começar a trabalhar comigo, e quando souberam a nota do exame deram-me os parabéns e disseram que, finalmente, já podiam lançar a notícia. Assinei por eles em Abril, eles queriam expor, mas pedi para não o fazerem, porque queria saber a nota do exame primeiro.

Que curso vai tirar?

Se ficasse em Portugal, a minha ideia seria Serviço Social ou então Psicologia para depois trabalhar na área social. Tendo em conta que vou para os Estados Unidos, terei de me preocupar com as equivalências, que não são fáceis. Mas também, no máximo, o que pode acontecer é ter de fazer uma ou duas cadeiras quando regressar a Portugal, o que não será um drama. Posto isto, o que tenho em vista é enveredar pela área do Desporto. Tenho muitos contactos e conseguirei encontrar colocação em algum lado. Depois, se quiser estudar outra vez, é o que farei.

Ficar lá não é uma possibilidade?

Claro que é. Quando falo em voltar é só quando for mais velha. O meu plano perfeito, que não sei se será possível realizar-se, mas que é o que imagino quando estou deitada na cama, é ir para South Florida quatro anos, jogar muito, depois ser escolhida no draft por uma equipa da WNBA e, como a WNBA é uma competição de Verão, muito curta, 'pirar-me' todos os anos para a Europa e jogar no campeonato espanhol, que é um dos melhores. E depois volto para lá, volto para cá, volto para lá, volto para cá.

Acredita que é possível?

Acredito.

E tudo começou na escola da Guia.

É verdade. Sempre adorei desporto

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