Entrevista

Almirante Silva Ribeiro: “É no mar que estão os recursos que Portugal não tem em terra"

18 jul 2019 00:00

O Chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas diz que "estamos à beira-mar, mas não temos mentalidade marítima"

Maria Anabela Silva

É um homem da Marinha. Portugal tem sabido aproveitar a sua proximidade com o mar?
Sou, de facto, um marinheiro, mas, neste cargo, sou ao mesmo tempo soldado e aviador. Procuro ser um chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas que trata os três ramos por igual e com grande equidade e respeito institucional. O facto de ser marinheiro facilita-me alguma coisa, pelo conhecimento que tenho das questões do mar, mas não é isso que dá relevância àquilo que digo sobre a importância do mar para Portugal. Desde muito jovem que decidi fazer também carreira académica, o que me permitiu desenvolver investigações e trabalhos que enriqueceram o conhecimento que tenho do mar e da sua relevância para o País. Por outro lado, estive 11 anos no Instituto Hidrográfico, o que me deu uma visão científica do mar. Depois, fui para o Estado- Maior [da Armada], experiência que me proporcionou a visão estratégica do mar. As muitas intervenções sociais que tenho feito têm-me proporcionado a compreensão da economia do mar, das questões culturais e ambientais relativas ao mar e das questões políticas das fronteiras marítimas.

Há muito que se fala da importância de nos virarmos para o mar, mas ainda não estamos suficientemente conscientes e despertos para o relevo que o mar pode ter na economia e na vida do País.
Sem dúvida. Afastámo-nos muito do mar. Após o 25 de Abril, ficámos fascinados pelos recursos financeiros vindos da Europa e tornámo-nos míopes em relação à importância do mar para Portugal. É preciso afastar essa miopia e voltar a debater o mar, mas de forma ampla e não apenas sectorialmente. Era fundamental criar nas nossas universidades um curso de estudos marítimos, mas na óptica das ciências sociais, porque estas dão-nos o entendimento global do mar. Além disso, é preciso começar a ensinar o mar às crianças, desde a escola primária, e explicar aos portugueses a necessidade e utilidade que eles têm do mar. Temos de criar uma mentalidade marítima, que falta hoje aos portugueses.

Leia aqui a primeira parte desta entrevista:
“Tancos foi algo inadmissível nas Forças Armadas. Mas o Exército não é Tancos”

Mas dizemos que somos um povo marítimo...
Pois, dizemos. Estamos, à beira-mar, mas não temos mentalidade marítima. Ela esbateu-se muito com o fascínio pela Europa. O nosso País progrediu muito depois do 25 de Abril, fruto desta ligação à Europa. Todavia, ela não implica que nos afastemos do mar. É preciso voltar a juntar o mar à Europa. E, para isso, devemos começar desenvolver em Portugal uma cultura e uma mentalidade marítimas, sem as quais nem sequer entendemos o mar nem a utili

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