Sociedade

Ensino articulado não tem vagas suficientes para a procura

8 jun 2017 00:00

Ano após ano, as vagas financiadas existentes nas escolas de ensino artístico da região não chegam para a procura, deixando centenas de alunos de fora de um percurso que, para muitos, representa um sonho antigo.

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As audições para um novo ciclo de ensino articulado já começaram. Centenas de alunos estão a tentar um lugar nas vagas disponibilizadas pelas escolas e conservatórios de música e dança da região. A procura não aumentou nos últimos anos, mas é sempre superior ao número de vagas financiadas.

São as provas de aptidão que vão seleccionar os alunos para entrar no ensino articulado, no 5.º ano, o que equivale ao 1.º grau do ensino artístico.

Na região são muitos os alunos que efectuam as provas e centenas ficam todos os anos de fora do ensino especializado integrado ou articulado. O financiamento atribuído pelo Ministério da Educação aos conservatórios e escolas de música e dança limita o número de vagas. Na maioria dos casos, as próprias escolas fazem um esforço financeiro para dar resposta a um número superior àquele que é contemplado com ajuda financeira por parte do Estado.

Pais de alunos que frequentam, pelo menos, cinco anos do articulado garantem que ganham uma cultura musical acima da média e uma aprendizagem diferente da maioria da sociedade.

Hermínio Domingos optou por colocar o filho no ensino articulado para “dar continuidade” à aprendizagem da música que tinha no Jardim-Escola João de Deus. “Quisemos também manter o grupo de alunos que já estava junto no 1.º ciclo. Entendíamos ainda que ao aprender música iriam ganhar outros interesses pelas artes”, conta.

Após cinco anos de ensino articulado no Agrupamento de Escolas Correia Mateus, em Leiria, Hermínio Domingos faz um balanço mais que positivo. “Mesmo nós, pais, tivemos uma aprendizagem da música e ganhámos uma cultura musical que antes não tínhamos. Ele também adquiriu conhecimentos que de outra maneira não atingiria. Por exemplo, consegue atribuir notas aos sons que ouve e ganhou uma sensibilidade diferente para a música.”

Este pai salienta, contudo, que apesar de gratuito este é um ensino dispendioso. “Queremos o melhor para o nosso filho e se ele estava a aprender música investimos num piano para que pudesse estudar em casa e alcançasse bons resultados. Por outro lado, há sempre os custos de ir buscar e levar, o que obriga a uma grande logística e disponibilidade familiar. Mas, no final todos temos um brilhozinho especial nos olhos ao vermos os nossos filhos actuarem.” Sacrifícios de que, por isso, não se arrepende.

O ensino articulado na escola Correia Mateus é da responsabilidade da SAMP – Sociedade Artística Musical dos Pousos. “Eles valorizam muito a presença dos pais, o que é um aspecto muito positivo. Numa audição, o meu filho não começou antes de eu e a minha mulher chegarmos. Também nos explicam como devemos encarar a música e as informações que nos passam são muito relevantes para a nossa cultura musical.”

Procura mais informada

Música e dança são a oferta das escolas da região, sendo a primeira a arte mais procurada pelos alunos. O director pedagógico da SAMP, Bruno Homem, afirma que actualmente a procura é “diferente” e “um pouco mais informada”.

“Ainda continua a haver a ideia: 'eu posso ir aprender música gratuitamente'. Mas, antes, este era o primeiro critério para entrar no ensino artístico. Agora, nota-se que os pais já têm a preocupação de perguntar em que idade os filhos devem começar a ter as primeiras aulas de música para que, quando chegarem ao 5.º ano, tenham a possibilidade de entrar”, acrescenta o director pedagógico da SAMP.

Possibilidade, pois, nada está garantido, alerta Bruno Homem, ao constatar que nos últimos três anos têm aparecido mais alunos que já tiveram algum tipo de iniciação musical e que estes acabam por se destacar de quem não teve qualquer formação. A SAMP procura diminuir as desigualdades de oportundiades incluindo os jovens que não têm capacidade financeira no grupo de “aprendizes de banda”.

Segundo este responsável, a selecção tem mesmo de existir, até porque se trata de um “ensino especializado”. “Os alunos que estão num curso destes estão a abrir portas para virem a ser músicos profissionais, portanto não pode ser para todos, mas para quem quer mesmo muito.”

Ana do Vale, directora pedagógica da Escola de Dança do Orfeão de Leiria (EDOL), também refere que muitos alunos que procuram o ensino articulado na vertente de dança já trazem formação de base. No entanto, continua a existir um número significativo de jovens que tenta entrar no ensino especializado para conseguir ter aulas de dança de forma gratuita.

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