Sociedade

“É irracional ninguém do comando nacional ser acusado”

4 out 2018 00:00

O presidente da Federação dos Bombeiros do Distrito de Leiria, José Almeida Lopes, estranha que entre os acusados do Ministério Público não esteja ninguém do comando nacional, nem o presidente da Câmara de Pedrógão Grande ou o secretário de Estado

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Um ano, três meses e dez dias depois do incêndio de Pedrógão Grande, que provocou 64 mortos, foi deduzida a acusação pelo Ministério Público (MP) do Departamento de Investigação e Acção Penal (DIAP) de Leiria.

No despacho de 212 páginas, foram acusados 12 arguidos. O despacho assinado pela procuradora Ana Simões acusa o então Comandante Distrital de Operações de Socorro de Leiria (CODIS), Sérgio Gomes (actual adjunto do comando nacional), o segundo comandante distrital, Mário Cerol, e o comandante dos Bombeiros Voluntários de Pedrógão Grande, Augusto Arnaut, de 63 crimes de homicídio por negligência e 44 crimes de ofensas à integridade física (14 dos quais graves).

Já o na altura presidente da Câmara de Castanheira de Pera, Fernando Lopes, é acusado de dez crimes de homicídio por negligência e um de ofensa à integridade física por negligência, e ao presidente da Câmara de Figueiró dos Vinhos, Jorge Abreu, são imputados dois crimes de homicídio por negligência e um de ofensa à integridade física por negligência.

Em Pedrógão Grande, o MP não acusou o presidente da Câmara, Valdemar Alves, considerando que os responsáveis pela limpeza das estradas e caminhos municipais eram o na altura vice-presidente da Câmara de Pedrógão Grande, José Graça, e a engenheira florestal da autarquia, Margarida Gonçalves, que respondem por sete crimes de homicídio por negligência e quatro crimes de ofensa à integridade física por negligência, três dos quais graves.

José Almeida Lopes, presidente da Federação dos Bombeiros do Distrito de Leiria, estranha que entre os acusados não esteja ninguém do comando nacional, nem o presidente da Câmara de Pedrógão Grande ou o secretário de Estado da Administração Interna.

“Começa por ser inconcebível que a REN e a Ascendi não possam ser constituídos arguidos [enquanto empresas] quando todo o cidadão já percebeu que há responsabilidades gravíssimas por parte destas entidades. Mais chocado fico quando são os empregados destas empresas a serem constituídos arguidos, quando cumprem ordens e se lhes tivessem mandado fazer a limpeza teriam ido fazê-la. Isto é algo de surreal.”

Almeida Lopes também questiona a razão por que o presidente da Câmara de Pedrogão Grande, Valdemar Alves, não é acusado, quando os outros autarcas o são, até porque são eles os responsáveis máximos da Protecção Civil de um concelho. “Os funcionários de câmara estão a ser responsabilizados, enquanto o presidente da câmara passa entre os pingos da chuva? Há aqui qualquer coisa que está muito mal.”

Jorge Gomes “deveria ser” responsabilizado
Afirmando que está “chocado” com a legislação portuguesa, este responsável, que foi comandante dos Bombeiros Voluntários de Leiria durante décadas, acusa que “é irracional ninguém do comando nacional ser acusado”, até porque “na data em que acontece o incêndio de Pedrógão Grande a gestão dos meios aéreos era do comando nacional” e “tanto quanto soube não foi muito transparente nem funcional a gestão que foi feita nesse dia dos meios aéreos”.

Para Almeida Lopes, o ex-secretário de Estado Jorge Gomes, que acompanhou as operações no posto de comando desde a primeira noite do incêndio, também deveria ser “responsabilizado moral, política e criminalmente”.

Segundo o despacho do MP, os responsáveis da Protecção Civil distrital omitiram "deveres elementares e obrigatórios" e agiram "sem o c

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