Sociedade

Desordenamento é um “cancro” que corrói o País

26 abr 2018 00:00

O País está a pagar a factura de décadas de “ineficácia” no ordenamento do território, muito por culpa de uma administração pública que se cingiu a fazer planos e que foi pouco pró-activa. Mas ainda é possível arrepiar caminho

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Maria Anabela Silva

Portugal foi, nas últimas décadas, “ineficaz” no ordenamento do território, com responsabilidades partilhadas entre as administrações central e regional e os municípios.

Hoje, estamos a pagar a factura dessa falta de planeamento, de que o despovoamento do interior, o desordenamento da floresta, o abandono dos campos e o consequente drama dos incêndios são algumas das faces mais visíveis, sem esquecer as cidades que foram crescendo criando periferias sem vida própria.

Estas foram algumas das conclusões do III Fórum Comunidade Intermunicipal da Região de Leiria (CIMRL), realizado no passado dia 20, em Alvaiázere, numa organização do JORNAL DE LEIRIA em parceria com CIMRL.

Mas, além do diagnóstico, os vários intervenientes apontaram algumas opções que podem ajudar a arrepiar caminho.

Especialista em geografia humana, Herculano Cachinho falou sobre a “falta de vida própria” das periferias da cidade, que, segundo o professor do Instituto de Geografia e Ordenamentodo Território da Universidade de Lisboa, se deve sobretudo à ausência de espaços públicos, que funcionem como “referência para as comunidades” e onde os moradores possam “conviver e partilhar vivências”.

“Antes de planearmos os bairros, com as construções, devíamos planear o espaço público”, defende Herculano Cachinho, reconhecendo que, face a essa lacuna, o shopping acaba por se afirmar como “o centro do subúrbio”, procurado por quem vive na periferia não só para fazer as compras, mas também para desenvolver as suas actividades.

“O shopping é hoje uma sala de estar e de convívio onde as pessoas vão passar algum do seu tempo”, afirma. Para “dar vida” às periferias, Herculano Cachinho considera fundamental dotá-las de espaços públicos “significativos” e “introduzir o tempo no planeamento”.

“Os subúrbios não foram pensados para se dormir neles. A pressa de se deslocar para a cidade, faz com que as pessoas apenas pernoitem nas periferias. Quando chegam, já tudo está fechado. É preciso desacelerar o tempo”, adverte.

Emparcelamento “obrigatório

”A realidade dos subúrbios é apenas uma das faces da “ineficácia” no ordenamentodo território, registada em Portugal nas últimas décadas.

“O País transformou-se muito, com enorme esforço público em termos de equipamentos e infra-estruturas. Estamos globalmente bem servidos. Mas, quando olhamos para a transformação que ocorreu no territórios, só podemos fazer um balanço muito negativo. Fomos ineficazes”, constatou Jorge Carvalho, urbanista e professor na Universidade de Aveiro.

Para o investigador, uma das razões dessa “ineficácia” prende-se com o facto de o ordenamento do território “ignorar, em grande medida”, a questão da propriedade privada.

“O nosso solo é praticamente todo propriedade de alguém. E os proprietários querem, naturalmente, tirar partido do seu bem económico. Há, muitas vezes, uma contradição enorme entre os interesses específicos de cada privado e o interesse colectivo do ordenamento do território&rdqu

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