Sociedade

De hostel a lar para refugiados: a nova vida das antigas escolas primárias

2 mar 2017 00:00

Hostel, centros comunitários, habitação ou até alojamento para refugiados e famílias carenciadas são alguns dos novos usos de muitas das escolas do 1.º ciclo que fecharam na região.

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Maria Anabela Silva

Foi um acaso e um caso de amor à primeira vista que ditaram a mudança da editora e livraria O Bichinho do Conto do centro de Lisboa para antiga escola primária de Casais Brancos, uma aldeia às portas de Óbidos. Já lá vão quase dez anos.

Cansados da agitação da vida que levavam, Mafalda Milhões e o marido procuravam um sítio fora de Lisboa para viver e trabalhar. Como condição impunham um local “onde se tivesse brincado muito, de onde se visse o mar, com um castelo à vista” e, se possível, onde houvesse uma árvore, “com, pelo menos, 28 metros quadrados”, o tamanho da livraria que tinham em Lisboa.

À partida, parecia difícil descobrir um espaço que reunisse todos esses critérios. Mas difícil não significa impossível. Em Óbidos encontraram um local assim: a antiga EB1 de Casais Brancos, que descobriram, por mero acaso, quando regressavam a Lisboa depois de uma reunião com representantes da Câmara de Óbidos a quem tinham informado que, afinal, não iam aceitar o espaço que lhes haviam indicado no centro da vila.

De volta à capital, bateram com os olhos na placa que indica Casais Brancos. “Lemos coisas diferentes. Na birra, para ver quem tinha razão, voltámos atrás e subimos ao cimo do monte. Já estava escuro, mas estava lá: a escola e a árvore. Regressámos na manhã seguinte. Tinha tudo o que queríamos”, recorda Mafalda Milhões. Havia um senão. O edifício estava bastante degradado. Puseram mãos à obra, com a preocupação de “honrar e respeitar a memória” do local.

As antigas salas de aula estão hahoje transformadas em livraria, atelier e galeria de arte. O espaço de recreio voltou a ter crianças a brincar. Há um baloiço e, a abraçar o edifício, uma grande árvore. Tal qual como Mafalda e Pedro tinham imaginado.

De escolas a centros comunitários

A antiga EB1 de Casais Brancos é uma das centenas de escolas do 1.º ciclo que fecharam portas na região, na maior parte dos casos, devido à falta de alunos, mas também para serem substituídas por modernos centros escolares.

Hoje, esses edifícios ganharam nova vida. Muitos funcionam como sedes de associações, mas há também edifícios ao serviço do turismo ou transformados centros comunitários. Neste último caso insere-se a ex-EB 1 de Alvados, no concelho de Porto de Mós, um projecto que o JORNAL DE LEIRIA foi conhecer pela mão de Benvinda Januário, que ali foi professora durante 19 anos e que hoje é presidente da Junta, e de Sandra Martins, que aí fez os seus primeiros estudos, viu os filhos aprenderem a ler e a escrever e, mais tarde, leccionou durante um ano.

A redução do número de alunos ditou o encerramento do estabelecimento de ensino, que fechou em 2014, com a transferência dos alunos para Mira de Aire. Mas, há cerca de dois anos, as portas voltaram-se a abrir, através do projecto Escola Viva, que pretende congregar a comunidade local em torno de actividades diversas, onde se incluem workshopsde culinária, “as mais concorridas”, aulas de inglês para adultos, acções de sensibilização na área da segurança e da saúde ou ciclos de cinema.

“Este é hoje um espaço de convívio e de congregação da população”, explica Sandra Martins, que integra a direcção da Trilhos do Castelejo, uma das associações que colabora com a União de Freguesias de Alvados e Alcaria na dinamização do espaço.

Foi também como centro comunitário que a antiga EB1 de Ourém, que nos últimos anos funcionou como jardim de infância, ganhou nova vida. Encerrado em 2011, com a abertura do Centro Escolar da Caridade, o espaço foi recuperado pelos funcionários da Divisão de Educação e Assuntos Sociais da Câmara e de uma instituição bancária e posto ao serviço da comunidade.

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