Sociedade

Da Câmara aos desafios da empresa

23 fev 2019 00:00

Formou-se em Direito, mas trabalha na área do Turismo

da-camara-aos-desafios-da-empresa-9895
Daniela Franco Sousa

Alcina Gonçalves completou três mandatos como vereadora na Câmara Municipal de Alcobaça. Foi uma aprendizagem intensa e esclarecedora para a ex-autarca, que hoje, à distância de uma década, percebe que nada tem a ver com a mecânica dos partidos. Mas o olhar crítico, esse nunca o perdeu.

No entanto, prefere hoje dedicar-se ao negócio do turismo, que desenvolve com paixão, apesar das dificuldades com que se depara neste sector.

Alcina Gonçalves tem 48 anos e é natural de Turquel, no concelho de Alcobaça. Formou-se em Direito e tinha apenas 26 anos quando aceitou o desafiou de Gonçalves Sapinho para integrar a sua lista à Câmara pelo PSD.

O convite foi aceite e Alcina Gonçalves acabou por se manter na vereação da Câmara de Alcobaça, sob a presidência do social-democrata, durante 12 anos consecutivos. Teve como responsabilidade pelouros tão diversos como Educação, Acção Social, Desporto, Turismo e Cultura.

E foi das poucas autarcas daqueles anos que, estando três mandatos consecutivos na Câmara, não chegou a ocupar o cargo de presidente. “Aconteceu com Telmo Faria, Paulo Inácio, Paulo Batista dos Santos, Tinta Ferreira e Diogo Mateus”, exemplifica Alcina Gonçalves. “Agora já temos meia dúzia de mulheres à frente de algumas câmaras, mas é por obra do acaso, por sorte. Isto porque os partidos são lugares de batalha, de boxe, onde todos querem salvar o seu lugar, e as mulheres não se revêem nisso. Eu nunca me revi nisso, embora tenha gostado muito de ser autarca”, expõe a vereadora.


O facto de os partidos discutirem sobretudo aquilo que se passa no sector público e não defenderem os interesses dos privados, de quem cria uma empresa, paga impostos, procura clientes e gera emprego, também foi uma das causas de afastamento entre Alcina Gonçalves e a política, salienta a ex-autarca.

Por outro lado, pelo facto de ter sido a mais velha de oito irmãos, também a obrigou a desenvolver desde cedo grande espírito de liderança.

E tendo chegado ainda bastante jovem à Câmara, Alcina entrava no mundo da política com “ingenuidade”, “sem vícios” e “com grande expectativa de que iria conseguir mudar o mundo”. É certo que o mundo não mudou, mas durante 12 anos a ex-vereadora contribuiu para que várias obras e eventos tivessem lugar no seu concelho.

Alcina recorda- se com especial orgulho da reabertura do Cine- Teatro de Alcobaça, da abertura da biblioteca municipal, da organização de iniciativas como os Doces Conventuais ou as Comemorações da Batalha de Aljubarrota, que passaram a ter maior projecção, também a construção das piscinas municipais de Pataias e da Benedita, e a implementação das refeições nos jardins- de-infância e nas EB1 de Alcobaça, que implicaram muito trabalho e capacidade de organização.

Ainda no campo da educação, Alcina nunca foi favorável à construção dos centros escolares, razão pela qual começou a incompatibilizar-se com alguns colegas de vereação. “Acreditava nas escolas de proximidade”, recorda a ex-autarca. Esse distanciamento foi-se intensificando e nas eleições seguintes Alcina Gonçalves já não integrou as listas para a Câmara.

Em parceria com Luísa Graça e Eduardo Nogueira avançou então para a criação do seu próprio negócio. Constituiu a empresa Lux Invicta Tourism, apostada em oferecer propostas turísticas de qualidade ao público estrangeiro. E tem captado sobretudo o interesse de norte-americanos e canadianos.

Na semana passada mudou de espaço e acrescentou o público português ao seu target internacional. O objectivo mantem-se e consiste em oferecer turismo cultural, turismo temático, em torno dos vinhos ou da história, explica a empresária.

É um trabalho que vem desempenhando com muita paixão e que requer muito esforço, já que o peso dos impostos é elevado, assim como é grande também a concorrência internacional. É preciso batalhar constantemente pela promoção e pela presença regular em feiras, defende Alcina Gonçalves.