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Cláudia Sebastião, jornalista: “Marcelo não é santo e falo dos defeitos dele”

7 dez 2018 00:00

A autora do livro "O Presidente dos Afetos" fala do Chefe do Estado e das razões que levaram a escrever este livro que cujo lançamento coincide com o dia do 70.º aniversário de Marcelo Rebelo de Sousa.

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Jacinto Silva Duro

O seu livro sobre Marcelo Rebelo de Sousa é um retrato do Presidente da República sob um ponto de vista mais... cristão?
Sim, o meu ângulo de abordagem foi esse. Marcelo Rebelo de Sousa é conhecido como o "Presidente dos afectos" e não é por acaso. Ele próprio, durante a candidatura, sempre disse que queria uma Presidência de proximidade e junto das pessoas. E tem sido isso que tem feito. Não quis abordar a questão política neste livro. Preferi a parte afectiva, que assinala a maior diferença em relação aos anteriores Presidentes da República. Fala-se de religião... é claro, ele não esconde o facto de ser católico, mas também se explica e mostra, através de testemunhos de pessoas que lidaram e lidam com ele, em vários campos da área social, como ele é longe das câmaras de televisão.

É uma biografia não autorizada?
Falei com pessoas próximas e criei um retrato a partir dos seus testemunhos e de muitas intervenções do “Presidente da República” e de Marcelo Rebelo de Sousa, antes de ser Chefe do Estado. Como jornalista, tentei falar com ele e entrevistá- lo, mas ele não teve disponibilidade e a minha opção foi falar com pessoas em sectores-chave, a que ele tivesse dado prioridade. Fui aos Cuidados Paliativos, onde ele ainda é voluntário, mesmo sendo Chefe do Estado. Falei com Nádia Piazza, por causa dos incêndios de 2017, e, no campo das religiões, falei com D. Manuel Clemente, com o Sheik David Munir, e com o responsável da comunidade israelita. O responsável da Comunidade Vida e Paz, que apoia os sem-abrigo, também dá o seu testemunho, bem como alguns amigos de longa data. Quis perceber se ele sempre foi assim, próximo, afectivo e preocupado.

Marcelo “está em todo o lado”.
Vai a todo o lado. Ainda há dias esteve em Borba, porque tinha um furo na agenda e quis estar lá. A minha ideia era tentar perceber se tudo aquilo é mesmo genuíno.

E a que conclusão chegou? Conhecia-o na TVI antes de ele ser Presidente da República.
Ele sempre foi assim. Na TVI, aos domingos, quando ele ia comentar a actualidade, ao chegar, falava com todas as pessoas; com o segurança, com a senhora da limpeza, com os estagiários, com a maquilhadora. Ia ter com as pessoas e queria saber delas. Isso é genuíno. Acredito que parte do que vemos até poderá ser para as câmaras, mas os testemunhos que recolhi dizem que, mesmo sem câmaras, ele fazia tudo o que faz agora. O responsável pela Comunidade Vida e Paz diz que já recebeu telefonemas, porque o Presidente ao deslocar-se para uma iniciativa de agenda, ao verificar que tinha dez minutos livres, decidiu passar por uma rua onde sabia que estaria um sem-abrigo que conhecia do tempo em que fazia voluntariado, para saber como ele estava. Marcelo, ao chegar lá, percebeu que a pessoa estava doente e telefonou para a Comunidade para os alertar da situação... Sem as câmaras atrás e sem alarido.

É comum agir assim, sem câmaras por perto?
Sim. Também conto no livro que ele, após os incêndios de 2017, foi lá e levou as câmaras atrás, para chamar a atenção para atenção e dizer aos portugueses para visitarem aquelas zonas queimadas, para ajudar ou de férias. O que não se sabe é que continuou ir ao hospital para visitar os feridos, na ala de queimados. Se passava perto de Coimbra, desviava a comitiva para ir aos Hospitais da Universidade. Ele tem um estilo próprio que tem muito que ver com a sua maneira de ser. Ninguém imaginaria Cavaco Silva a agir desta maneira. Por exemplo, o anterior Presidente, quando ia aos eventos de agenda, tinha os discursos escritos e usava-os. Com Marcelo, os assessores não conseguem fazer isso. Ele tem várias iniciativas todos os dias e fala de improviso. Para esta investigação, tive de ver os vídeos todos da página na Presidência, porque há poucas coisas transcritas. Além disso, ele gosta de estar no meio das pessoas. Mesmo que os seguranças definam um trajecto com menos gente à volta, ele vai sempre pelo meio da confusão.

O que foi que a surpreendeu ao escrever o livro?
A afectividade que as pessoas demonstram ao falar dele. Entrevistei muitas e quase todas se disponibilizaram para falar de Marcelo com uma gratidão e afectividade que não é habitual vermos à volta dos políticos. Há um afastamento cada vez maior entre os portugueses e os eleitos, mas o Sheik David Munir diz que o Presidente chegou no momento certo, após a crise e num momento de grande distância entre os eleitores e os políticos. Veio dar confiança às pessoas e fez com que acreditassem nos políticos e no futuro de Portugal.

Marcelo não é populista, é popular?
Sim, pode-se dizer que sim. Mas Marcelo não é santo e também falo dos defeitos dele. Por exemplo, é impulsivo. O padre Vítor Melícias, que é amigo dele há décadas, diz que ele “age rapidamente” e, nem sempre, isso é sinónimo de agir bem e reflectidamente. Quando há uma explosão, vai a correr para lá. Quando houve os incêndios do ano passado, chegou cedo ao local e pôs-se em perigo... e o Presidente da República não é qualquer um, é o Chefe do  

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