Saúde

Centro Hospitalar de Leiria inicia novo tratamento de doença cardíaca estrutural

22 jul 2023 09:06

Experiência realizada em dois pacientes de 42 e 58 anos

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A Unidade de Hemodinâmica e Intervenção Cardiovascular do Hospital de Santo André, unidade do Centro Hospitalar de Leiria (CHL), iniciou no dia 7 as intervenções para tratamento de doença cardíaca estrutural, realizando o novo procedimento em dois doentes, de 58 e 42 anos, tendo o último caso sido transmitido online em directo para a 13.ª edição do Challenges in Cardiology, que decorreu em Peniche.

Segundo uma nota de imprensa, o CHL adianta que esta nova intervenção percutânea, intitulada encerramento do foramen ovale patente, é uma das mais comuns e mais antigas que se fazem a nível estrutural do coração.

"Trata-se de encerrar um defeito congénito que se chama foramen ovale patente, que é um orifício que comunica as aurículas e que, ao contrário do esperado, não se encerra após o nascimento. Quando persiste, deixa uma comunicação entre as aurículas, um defeito comum na população em geral, atingindo cerca de 20% das pessoas. Este defeito pode estar associado à ocorrência de um Acidente Vascular Cerebral (AVC), situação dramática, tornando-se ainda mais revelante, dada idade mais jovem dos doentes que são atingidos", explica Jorge Guardado, coordenador da UHICV do CHL, citado na nota de imprensa.

O especialista adianta que "quando isto acontece, a investigação diz-nos que o defeito deve ser corrigido", o que irá pevenir "um novo evento cerebral vascular isquémico".

"As decisões para chegar a esta intervenção passam por uma equipa multidisciplinar, nela incluindo a Imagiologia Cardíaca, a Neurologia e a Cardiologia de Intervenção", acrescenta.

Para realizar este procedimento, afirma Jorge Guardado, "é necessária uma vasta equipa constituída por cardiologistas de intervenção, técnicos, enfermeiros, ecocardiografistas e anestesiologistas". "O doente é sedado, de modo a que o procedimento decorra com segurança, bem como para melhor conforto do paciente. O dispositivo é definitivo, e depois fazemos um controlo regular de ecocardiografia para podermos avaliar se o dispositivo mantem persistência do resultado imediato da sua correta implantação", precisa.

Para permitir a realização dos dois primeiros procedimentos, foi convidada uma equipa vinda de Coimbra, liderada pelo médico cardiologista Marco Costa, coordenador da Unidade de Intervenção Cardiovascular no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC), refere o CHL.

"O procedimento em si é bastante simples. Nós colocamos um fio guia a atravessar o septo interauricular, depois guiado por ecografia, transesofágica ou por ecografia intracardíaca, colocamos o dispositivo: um disco do lado auricular esquerdo e um disco do lado auricular direito, fechamos o septo e libertamos depois o dispositivo de modo a fixá-lo no local pretendido. É um procedimento com uma taxa de sucesso elevadíssima, superior a 99%, e com uma taxa de complicações muito baixa. É muito rápido, em menos de uma hora conseguimos tratar o doente, com um internamento muito curto, de cerca de um dia", sublinha Marco Costa.

Jorge Guardado considera que se "abre aqui um capítulo gigante para Leiria e para o seu centro hospitalar, para a nossa Unidade e para os nossos doentes". "Vamos conseguir tratar os doentes que temos referenciado para outros centros, que têm lista de espera, e desta forma também os conseguimos tratar em tempo mais precoce, em jovens que têm, à partida, uma boa esperança média de vida, e para nós é um orgulho podermos ajudá-los e tratá-los na sua casa, sem haver referenciações".

"A nossa expectativa é tratar entre 15 a 30 doentes por ano. A partir de agora, abrimos a porta para podermos vir a tratar outras doenças estruturais que são muito comuns na nossa população, nomeadamente na estenose aórtica, que tem uma taxa de mortalidade muito elevada. Podermos contribuir para este novo passo é uma motivação adicional para avançarmos para outros procedimentos de intervenção estrutural, o que também implica uma expansão logística completa da unidade: uma nova sala, mais recursos, mas essa é a evolução", sublinha o coordenador da UHICV do CHL.

Também o director do serviço de Cardiologia do CHL, João Morais, afirma que se pode "abrir um novo capítulo na história da doença cardiovascular no distrito de Leiria".