Sociedade

Cabras vão ajudar a prevenir fogos em aldeias de Figueiró dos Vinhos

13 ago 2021 18:00

Projecto da Comissão de Baldios de Alge e Lugares Anexos. Se a primeira fase correr bem, a ideia é que o rebanho chegue aos 400 efectivos.

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Primeiras cabras do projecto já estão no terreno.
DR
Maria Anabela Silva

As aldeias de Alge, Pé de Janeiro e Carvalhos, no concelho de Figueiró dos Vinhos, vão ganhar novos ocupantes. Serão perto de 100 cabras que passarão a fazer parte do seu habitat, com a missão de manter limpas as faixas de protecção em redor das povoações e, dessa forma, prevenir incêndios.

Ainda com a tragédia dos fogos de 2017 muito presente na memória, a Comissão de Comparte dos Baldios de Alge e dos Lugares Anexos, na freguesia de Campelo, está agora a apostar na pastorícia como meio para “melhorar a resiliência” dos espaços rurais e, principalmente, evitar os fogos florestais.

As primeiras cabras já estão no terreno e o objectivo é, no curto prazo, “chegar às 100 cabeças de gado”, revela Bruno Braz, presidente da comissão, adiantando que serão também introduzidos alguns burros, cavalos e vacas de raça maronesa.

O dirigente explica que os animais irão assegurar a limpeza das áreas circundantes às aldeias, “a designada folha que antes era área de cultivo” e que, entre outras funções, funcionava como “travão” em caso de incêndio.

“Manter essa limpeza em territórios com pouca gente é ainda mais complicado. E, todos anos, recorrer à limpeza mecanizada sai caríssimo”, frisa Bruno Braz, adiantando que o projecto abrangerá mais de 30 hectares.

Se esta fase correr bem, a comissão de baldios pretende aumentar o efectivo “até às 400 cabras”, o que permitirá “dar sustentabilidade e retorno financeiro” ao projecto, com a produção de queijo.

Eucaliptos arrancados

A aposta na pastorícia funcionará como complemento a outras acções que a comissão tem desenvolvido para reforçar a “resiliência” da mancha florestal das aldeias onde tem baldios sob a sua gestão. Um dos projectos consistiu na plantação de 85 hectares de medronheiro, carvalho, bétula e cedro, efectuada após 2017.

Mais recentemente, foi feito o arranque de eucaliptos e de pinheiros numa área com cerca de quatro hectares circundante à aldeia de Alge, tendo sido depois plantadas espécies autóctones. Neste caso, a acção contou com “o contributo dos proprietários que permitiram a reflorestação”.

No próximo Inverno, está previsto o início da regeneração de mais 160 hectares, 60% dos quais com recurso a pinheiro e os restantes ocupados por “faixas de descontinuidade” com castanheiro e sobreiro.

Balanço “excelente” em Serro Ventoso, falhanço em Fátima

O uso de cabras na limpeza de terrenos não é uma novidade na região. A freguesia de Fátima foi a primeira a recorrer a essa solução. O projecto iniciou-se em 2010 e o rebanho da junta chegou a ter cerca de 400 efectivos. Viria, no entanto, a chegar ao fim em 2017 quando foi detectada uma infecção geral de CAEV (Artrite Encefalite Caprina), que obrigou ao abate do rebanho. A decisão da junta foi a de não repor o efectivo. Em 2016, foi a vez da Junta de Serro Ventoso, no concelho de Porto de Mós, avançar com um projecto idêntico. Cinco anos depois, Carlos Cordeiro, presidente da autarquia, considera que o balanço é “muito positivo”. Com um efectivo a rondar as 70 cabras, o autarca diz que o rebanho tem feito um “excelente” trabalho de limpeza. A maior dificuldade está na contratação de pastor. “Talvez devêssemos mudar o nome para técnico-florestal ou de pastorícia”, sugere.