Sociedade

Bypass na Figueira demorará anos a repor areal nas praias da região

4 set 2021 16:26

O ministro do Ambiente declarou que a construção do sistema fixo de transferência de areais vai avançar na Figueira da Foz. Leiria aguarda com expectativa.

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São Pedro de Moel é uma das praias onde a redução do areal se tem agravado
Ricardo Graça
Daniela Franco Sousa

Mesmo que a construção do bypass estivesse concluída amanhã, só dentro de cinco anos São Pedro de Moel poderia recuperar o seu areal, exemplifica Filipe Duarte Santos, investigador e geofísico, a propósito do sistema fixo de transferência de areias a construir na Figueira da Foz, obra que o ministro do Ambiente disse recentemente que é para fazer avançar.

No distrito de Leiria, a solução é aguardada com expectativa, mas teme-se que os efeitos da mesma demorem a sentir-se por cá, onde o avanço do mar se agrava a cada ano que passa.

O ministro do Ambiente, João Matos Fernandes, assumiu à agência Lusa que a transferência de areias para combater a erosão costeira a sul da Figueira da Foz, com recurso a um sistema fixo (bypass) é a mais indicada e que será concretizada.

A decisão aconteceu após a análise do estudo da Agência Portuguesa do Ambiente (APA), que apresenta quatro soluções distintas de transposição de areias. Destas, notou o governante, o sistema fixo é aquele “que apresenta melhores resultados num horizonte temporal a 30 anos”.

João Matos Fernandes realçou que se trata ainda de um estudo de viabilidade, económica e ambiental, que terá de ser transformado num projecto, mas “depressa, a tempo do que vai ser o próximo Quadro Comunitário de Apoio”.

A construção do bypass representa um investimento inicial de cerca de 18 milhões de euros, sendo que o custo total, a 30 anos (que inclui o funcionamento e manutenção), está estimado em cerca de 59 milhões de euros.

Será constituído por um pontão, com vários pontos de bombagem fixa que sugam areia e água a norte e as fazem passar para a margem sul por uma tubagem instalada por debaixo do leito do rio Mondego.

Recorde-se que, com o prolongamento do molhe na Figueira da Foz, obra inaugurada em 2011, a erosão nas praias a sul acentuou-se, com a destruição da duna de protecção costeira a fazer sentir-se em vários locais. O problema estendeu-se pelo distrito de Leiria, até à Nazaré.

Para Filipe Duarte Santos, a construção do bypass “é uma iniciativa positiva”, que está em linha com o que preconizou o Grupo de Trabalho para o Litoral num relatório de 2014, que o próprio investigador coordenou.

“Estou satisfeito, é a melhor solução, vai beneficiar todas as praias a sul”, sendo que os efeitos demorarão a fazer sentir-se nas praias mais distantes, realça o geofísico, que exemplifica com a situação de São Pedro de Moel (Marinha Grande), local que bem conhece e onde passa férias regularmente.

Apesar de distar cerca de 50 quilómetros da Figueira da Foz, esta praia tem perdido grande quantidade de areia, verifica Filipe Duarte Santos.

E embora a solução preconizada seja semelhante àquela que se mostrou vantajosa em Twin Rivers, na Austrália, uma vez construído o sistema, será preciso “continuar a monitorizá-lo, dado que as condições das zonas costeiras são muito dinâmicas e é necessário garantir a optimização da estrutura”, acrescenta.

Para João Coelho, proprietário de uma habitação situada a 100 metros das arribas, no Vale Furado (Alcobaça), a construção do bypass “peca por tardia”. Com perda de areal e erosão das arribas de tal modo expressivas, a APA deu indicação para relocalizar várias casas, expõe o morador.

Entre habitações que oferecem risco mais ou menos elevado de derrocada, a agência sinalizou uma área com 56 imóveis, contabiliza João Coelho. “Esperemos que a construção do bypass chegue a tempo de evitar relocalizações.”

Autarcas da região aguardam com expectativa
 
“Recebemos com enorme expectativa a notícia sobre a criação de um sistema fixo para transposição das areias do norte para sul, na medida em que pode contribuir para solucionar um problema grave, que tem tido um forte impacto ambiental e socio-económico no nosso território”, afirma Gonçalo Lopes, presidente da Comunidade Intermunicipal da Região de Leiria. “Nas últimas décadas, temos assistido a uma redução dramática do areal nas nossas praias, uma situação que tem, em alguns casos, ameaçado edificações na frente marítima e causado prejuízos aos operadores económicos, nomeadamente na área turística, cuja actividade é fundamental para as comunidades radicadas nas nossas praias e também para toda a economia regional, dada a importância da nossa costa para a atracção de visitantes”, acrescenta.