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Bless é o chocolate suíço que nasce junto ao mar, na Nazaré

19 jul 2020 19:47

Bombons e barras artesanais, com e sem açúcar, de chocolate negro, branco e de leite, executados de acordo com métodos suíços

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Sabores de lima, grão de maracujá, azeite e frutos vermelhos, entre outros, nas experiências de Brigitte Bless Violet
Ricardo Graça

Quando a chocolatier Brigitte Bless Violet nos diz que “um bombom é uma aventura” e “uma história”, estamos nos últimos momentos da conversa. Fala com olhos rasgados por sorrisos e a autoridade de quem chega de um país – a Suíça – que é sinónimo de chocolate. Já nos deu a provar sabores de lima, grão de maracujá, azeite e frutos vermelhos, já demonstrou todas as etapas do processo, da fusão ao derradeiro molde no frio. A seguir vai sentar-se e detalhar a geografia de afectos que a liga a diferentes culturas, incluindo a de Portugal.

Pelo lado materno, o antepassado Edmond Bartissol está na expansão da ferrovia no século XIX e desde aí a família mantém raízes por cá. Brigitte, 59 anos, é natural de Munique, na Baviera, mas viveu a maior parte do tempo na Suíça, filha de pai francês e mãe alemã. Morou em França, no Canadá e em Espanha – e desenha as curvas e contracurvas da árvore genealógica com palavras em castelhano e português, o que faz também quando o assunto é o ateliê Bless de chocolates artesanais ou os lotes que compra com origem em São Tomé e Príncipe e Madagáscar.

Há dois anos, fixou-se em Famalicão, Nazaré, a 40 minutos de Leiria, numa vivenda com horizonte azul sobre a Praia do Salgado.

Diz que a Nazaré é um caso “de amor”, que conheceu em 1982, durante a lua de mel, porque o marido quis ver o mar uma última vez antes de regressarem a casa. Não havia litoral mais próximo no mapa. Acabaram por dormir num hotel diante do oceano e nunca mais esqueceram o ambiente da vila nem o vinho do Porto oferecido por alguém que ainda os convidou para celebrar a vitória do partido nas eleições autárquicas, numa espécie de guia rápido sobre a hospitalidade à portuguesa. Quando em 2017 visitaram Fátima pelo centenário, num ano tomado por incêndios, decidiram radicar-se no canto mais ocidental da Europa. E a Nazaré foi a escolha inevitável.

Em Portugal, o objectivo é iniciar um projecto agrícola baseado nos princípios da permacultura (em harmonia com o ecossistema). Mas, por agora, Brigitte entrega-se de corpo e alma a uma nova paixão, que já a levou a obter o diploma de chocolatier, depois de trabalhar na área das medicinas naturais, dos acessórios de moda e decoração e da pintura em porcelana.

Os chocolates com a marca Bless (apelido que adoptou por casamento) estão no mercado desde o último Outono e além dos clientes particulares individuais encontram-se em restaurantes e hotéis. A ligação com a permacultura não é óbvia, mas existe: “Se queremos coisas interessantes, temos de deixar a natureza fazer o seu trabalho”, explica ao JORNAL DE LEIRIA.

Sempre sob a regra de usar “só produtos naturais” e “não adicionar químicos”, há bombons e barras, com e sem açúcar, de chocolate negro, branco e de leite, executados de acordo com métodos suíços, com sabores como vinagre balsâmico, manga, framboesa ou chá fumado, entre outros, numa busca para “encontrar gostos especiais, diferentes”.

As experiências de Brigitte Bless Violet também têm em conta as estações do ano – no Verão, por exemplo, quer-se um bombom mais fresco, que expresse a acidez natural da fruta.

Alguma da matéria-prima chega a custar 30 euros por quilo – é o caso do cacau da Costa Rica e de Madagáscar – e comprova a ideia de que “o chocolate é um luxo”. Há más notícias: é provável que a produção caia acentuadamente nos próximos anos.

Até lá, o melhor é não recusar a aventura e a história contidas em cada bombom. Se tudo correr como deve, o prémio é aquilo que Brigitte descreve como “o prazer de ter um pouco de crocante e chegar rapidamente ao interior”.