Sociedade

Ainda há famílias com amor incondicional pelas praias da região

16 ago 2018 00:00

O mar pode ser rebelde e as condições meteorológicas inconstantes. Mas para quem, durante anos a fio, escolhe as praias da região para passar férias, esses aspectos são apenas pormenores.

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Maria Anabela Silva

O que é que o Pedrógão, a Vieira, São Pedro de Moel ou a Mina têm que fazem com que haja quem durante anos ou décadas a fio ali passe férias? O mar está, frequentemente revolto e impróprio para mergulhos. As manhãs são, muitas vezes, marcadas pela neblina.
Em alguns casos, a arquitectura é digna de figurar nos manuais como exemplo do que não se deve fazer. O espaço público reclama atenção e faltam programas de animação “consistentes”.
Mas, o que importa isso quando ali se encontram os amigos de sempre ou o melhor peixe grelhado ou ao sal do mundo (...) e arredores? Ou, quando há tradições ancestrais, como a arte xávega, que se mantêm, sobrevivendo à passagem dos anos. Ou quando há – havia – um pinhal com séculos de vida, a abraçar essas estâncias balneares.

Em época de férias, o JORNAL DE LEIRIA foi ouvir o testemunho de quem, há décadas, escolhe praias da nossa região para uns dias de descanso.

Pedro Neves: fiel ao Pedrógão desde que nasceu

Férias são para Pedro Neves sinónimo de Pedrógão, de pescarias, sozinho ou acompanhado ou de caminhadas matinais ao longo da marginal, saboreando a maresia de cada amanhecer. Mas também sinónimo de memórias, muitas e boas memórias, dos dias de brincadeira no areal, em criança, ou das noites de diversão na adolescência e juventude, quando o Pedrogão dava cartas na animação nocturna da região. Mas também das noites de Inverno, passadas à lareira a ouvir histórias, sentado ao colo do avó, que lhe passou o amor “incondicional” a esta praia.

“Para ele, o mar estava sempre bom, mesmo que não estivesse. Fomos crescendo e pensando da mesma maneira”, conta o cineasta de Leiria, que faz férias no Pedrógão desde que nasceu, há 41 anos, seguindo uma tradição familiar iniciada pelo bisavô e continuada pelo avô e pelo pai.

Em criança, assim que acabavam as aulas, mudavam-se de malas e bagagens para a praia e aí ficavam até o regresso à escola. Na juventude, a rotina só era quebrada, durante alguns dias, para ir a um festival de Verão ou passar uns dias na costa alentejana.

Radicado no Porto desde os 18 anos, Pedro Neves mantém-se fiel ao Pedrógão, para onde corre sempre que pode. “Do que é que gosto? Não é, com certeza, da arquitectura. Quando começamos numa praia, afeiçoamo-nos. Ficamos felizes quando há um bom dia de praia e resignamo- nos quando os dias sãos maus”, diz.

É também aqui que, garante, encontra “o melhor peixe grelhado, o do Manuel [Quiaios], e melhor robalo ao sal, o do Vítor [Santos, do restaurante Rotunda]”.

O extenso areal, quase a perder de vista, a tradição da pesca e da arte xávega, e limpeza da praia são outros dos atractivos que aponta ao Pedrogão.

Mas, não se pense que o amor e a ligação que Pedro Neves tem ao Pedrógão, a única estância balnear do concelho de Leiria, lhe toldam a clarividência e o impedem de ver os aspectos menos positivos, com a arquitectura à cabeça.

“Gostava que não se deixasse construir tudo o que se quer. O Pedrógão não tem uma identidade própria. Facilmente se descaracteriza”, nota o cineasta, que lamenta a tendência para se fazer deste “um sítio popularucho”, com “falta de gosto”, o que se reflecte não só na arquitectura, mas também no espaço público e em alguns estabelecimentos comerciais.

“Há falta de brio. Por exemplo, não existe uma única árvore em todo o Pedrógão. Só existem uns arbustos e depois o pinhal, que está como está. Também não há um programa de animação mais sustentado ao longo do Verão. Tenho dificuldade em perceber a actual confusão de eventos”, aponta Pedro Neves, para quem, apesar de todos os senões, “não há praia como a do Pedrógão”. “É aí que tenho muitas das minhas memórias, da família e dos amigos. E é aí que regresso sempre que posso.”

Amélia do Vale: A “envolvência” selvagem da Praia da Mina

A relação de Amélia do Vale com a Mina começou há 20 anos, quando se deixou seduzir pela “envolvência selvagem” desta praia do concelho de Alcobaça. Não sendo particularmente apreciadora de “banhos de sol e de areia”, diz que prefere disfrutar da natureza que a zona lhe proporciona.

“Gosto das dunas, das rochas e da vegetação que agora vejo a renascer das cinzas. Encantam-me as toutinegras e os melros que habitam por lá durante todo ano e as andorinhas que no Verão aparecem”, descreve a professora, agora aposentada. Há ainda o mar, “um imenso e misterioso mar, algumas vezes tão calmo como um lago, mas a maior parte das vezes com ondas capazes de todos os anos construírem um areal diferente”.

“Gosto de sentir, por causa da ausência das infra-estruturas com que os humanos invadem as praias, o labor cíclico através do qual, ano após ano, a natureza se constrói”, acrescenta Amélia do Vale, que realça ainda o prazer que retira quando, nas noites de luar, vê “o rebentar das ondas na areia”.

Ou quando nos dias frios de Inverno”, sente a agressividade do vento e dá consigo “a rezar para que, perante o poder imenso da natureza, nenhuma desgraça aconteça aos pescadores que adivinho a trabalhar naquelas luzinhas distantes no alto ma

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