Viver

A leitura é uma “maçada”

21 abr 2016 00:00

Legendas na televisão e no cinema, publicações no Facebook e jornais desportivos. É este o contacto primordial dos jovens no ensino superior e secundário com as letras.

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Jacinto Silva Duro

Não lêem, consideram o exercício enfastiante e há, na véspera da celebração do Dia Mundial do Livro até quem tenha orgulho de poupar às íris o encontro imediato com as letras.

Dia Mundial do Livro é comemorado sábado, dia 23 de Abril. Esta é uma data simbólica para a literatura, já que, neste dia, desapareceram importantes escritores como Cervantes e Shakespeare, entre outros autores.

Por essa razão, fomos perguntar a quem não lê, por que razão foge das letras. Jornais desportivos para saber as últimas novidades dos cortes de cabelo de Cristiano Ronaldo e como está o mercado de transferências, revistas de moda, manuais de estudo, Facebook e legendas de filmes e séries.

A isto se resume a leitura diária da maior parte dos jovens a frequentar o ensino superior ou secundário, que o JORNAL DE LEIRIA escutou sobre o tema da leitura. A maior razão para a pouca leitura?

A “falta de tempo”, justificada pela universidade ou por uma actividade profissional que consome muito mais do que oito horas por dia. Joaquim Lopes é um jovem de 18 anos que, admite, nunca leu um livro completo do princípio ao fim.

Estagiário do curso de Electrotecnia, saído da Escola Secundária Domingos Sequeira, em Leiria, conta que jamais se sentiu inspirado pela influência artística do pintor, patrono do estabelecimento de ensino – confessa que nem sequer sabe quem foi a personagem – e que o sentimento na turma de onde saiu no ano passado, é semelhante ao seu no que toca a hábitos de leitura.

“Os meus amigos não lêem e nenhum dos meus colegas de turma lê”, conta. “Nada? Jamais leram o que quer que fosse?” Perante a pergunta, Joaquim pára uns segundos para pensar e reformula a resposta.

“Nunca houve um livro que me puxasse para ler até ao fim. Não vejo onde está o entusiasmo. Tudo o que me poderia apetecer ler, posso ver em filmes ou na internet”, remata.

Já leu capítulos de um ou dois livros de aventuras, mas nunca se lançou em algo mais curto, como um livro de contos - “Ler dessa maneira faz parte do 'trabalho de ler'. Costumo ler contos de fadas à minha irmã mais pequena. Isso vale? Não?”

O jovem revela que parte do problema, além de uma dificuldade na aprendizagem diagnosticada clinicamente, é o facto de os textos impressos terem “muitas letras”... uma sopa de caracteres onde, diz, é fácil afogar-se.

“Tem muita letras e, em alternativa, leio tudo na internet. Leio legendas na televisão e no cinema à falta de melhor, e leio publicações e mémes [pequenas imagens humorísticas] no Facebook e, claro, as instruções e as mensagens de outros jogadores nos jogos online”, adianta, antes de fazer uma súmula do que acaba de dizer: “na internet, lemos as legendas brasileiras e sabemos que o que eles escrevem está mal e não corresponde ao que os actores dizem, mas isso faz parte da vida.”

Depois de um encolher de ombros e antes de continuar, faz mais um esforço de memória e recorda com um sorriso largo e olhos azuis brilhantes: “na escola, li os capítulos dos livros que foram dados nas aulas de Português.

Li partes dos Lusíadas, Eça de Queirós, Gil Vicente e aquele que tem pessoas com muitos nomes… Ah! O Fernando Pessoa e os seus... heterónimos e os… acho que eram os ortónimos”.

Inês Almeida, 18 anos, está a frequentar o ensino superior e tem uma resposta pronta, embora de difícil compreensão, quando se lhe pergunta por que razão os portugueses lêem pouco.

“Eu acho que a malta é porque há malta que acha que é seca, há outra malta que acha que é entrar noutro mundo completamente.” Esclarecidos?... Luís David, 21 anos, lê revistas e o último livro que leu foi A mão do diabo, de José Rodrigues dos Santos.

Fora isso, não tem tempo para ler, embora considere que a leitura é importante para que as pessoas “se cultivem”. Ainda assim, entre ler um livro e ver o filme do livro, prefere a segunda opção.

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