Desporto

A despedida do cavalheiro que foi rei das praias por 25 anos

7 ago 2019 00:00

O andebol de praia foi sempre muito mais do que uma paixão. Sérgio Sigismundo jogou em todas as 25 edições do torneio de andebol de praia do Pedrógão.

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Era sábado, já passava das 22 horas e estava um frio de rachar. O ambiente não era adequado para momento tão solene. O único totalista dos 25 anos de andebol de praia no Pedrógão concluía, emocionado, a carreira desportiva envergando as alças vintage do clube que o acolheu nas últimas temporadas, os Raccoons d’Areia.

Perante uma bancada repleta e rodeado de alguns dos companheiros com quem foi partilhou os areais nas últimas duas décadas e meia, marcou o último de um mar de golos.

Sérgio Sigismundo estava melancólico, mas feliz. Ciente de que o percurso que teve foi imaculado, que só fez amigos, que foi – e é - respeitado pelo mundo de andebol, mas absolutamente certo de que “não fazia sentido continuar a competir” e de que era hora de dizer o definitivo adeus à praia. Seis temporadas após se ter despedido dos pavilhões.

Mas aquele sábado, aqueles três desafios em que teve oportunidade de se despedir de vez dos jogos aéreos e dos golos espectaculares, foi um dia de emoções.

E lembrou-se da primeira vez, quando, há 25 anos, o Académico de Leiria decidiu avançar para a organização do primeiro torneio em Portugal, depois de ter conhecido, em Itália, aquela expressão desportiva “única”.

Na altura, com 21 anos, tinha acabado de chegar a Leiria, oriundo do Sporting. Estilo especial, cabelo mullet, era o terror das defesas adversárias. No andebol de praia também era assim. “O paraíso na terra”: a modalidade que o fascinava jogada no meio onde nascera. “Percebi logo que era brutal.”

No fundo, não era mais do que voltar ao tempo das brincadeiras de criança na sua praia da Nazaré, onde a bola servia muito mais do que para uns pontapés. “Usávamos os paus das barracas para servirem de balizas e fazíamos uns remates e jogos de dois contra dois”, lembra o canhoto.

Subindo na costa, preparar a primeira edição do Pedrógão foi “atribulado”, recorda. “Treinávamos no pavilhão, em Leiria, com as regras de praia e só tivemos dois ou três dias para fazer a adaptação.” Sérgio foi-se destacando, ganhando prémios de melhor jogador, de melhor marcador, conquistando títulos e chamado à selecção nacional.

Quem com ele jogou ao longo de anos e anos foi o actual seleccionador, que fez também questão de tirar a naftalina dos equipamentos para as últimas partidas do canhoto. Ao que consta, faziam uma dupla imparável.

“Sou suspeito, mas no jogo aéreo não havia igual e a forma como finalizava era fantástica. Como costumávamos dizer, era de olhos fechados.”

Paulo Félix não tem dúvidas. “Sérgio Sigismundo é uma das grandes referências do andebol de praia português e um dos que passou ao lado de uma grande carreira internacional por ter deixado de haver selecções durante mais de uma década e meia.”

A bola vai ser guardada no baú, mas a ligação à modalidade, é certo, jamais se quebrará e os amigos que fez “ficam para a vida”. Agora, a prioridade é dar continuidade ao trabalho que tem feito em torno da equipa feminina de sub-18 dos Raccoons d’Areia, onde joga a filha, Bianca. A sucessão está, pois, garantida.