Opinião

Putin não é culpado. És tu e eu!

19 abr 2022 15:45

O João é filho de camponeses humildes de um pequeno povoado do interior.

Com sacrifício e poupanças subtraídas a uma vida que poderia ter sido melhor, conseguiram enviá-lo, na altura própria, a estudar numa universidade.

O rapaz, aplicado e focado, formou-se em engenharia civil e constituiu família. É o orgulho maior dos seus progenitores que, recentemente, souberam que vão ser avós!

Já o Gonçalo nasceu numa cidade cosmopolita. Cresceu numa família com hábitos culturais, rodeado de livros e discos.

É professor de piano e a sua esposa é coreógrafa. São papás de duas meninas, gémeas, lindas de morrer.

De repente, zás, o inimaginável aconteceu: o país vizinho entrou pela sua pátria adentro argumentando que os vinha libertar e salvar!

Não foi preciso muito tempo para que os “salvadores” mostrassem, afinal, a sua verdadeira intenção.

O João e a sua esposa grávida morreram quando um tanque “libertador” esmagou o carro onde seguiam contra o alcatrão.

Tentavam chegar a casa dos seus pais para os levar à fronteira, sem saber que já jaziam entre os escombros da sua aldeia bombardeada…

A família do Gonçalo teve mais sorte. Sobreviveu ao ataque de mais um míssil “libertador” que destruiu a sua vivenda e fugiu para uma nação amiga.

O Gonçalo teve que ficar para defender o seu país. Teve que trocar as teclas do seu piano pelo gatilho de uma arma que nunca pegara antes.

Está barricado numa trincheira, num dos últimos redutos de resistência da sua cidade arrasada, à espera de fazer mira na testa dos soldados inimigos, alguns deles de tenra idade e, de certa forma, também vítimas, que vieram sem saber ao que vinham, mandados pelos seus algozes cruéis para a linha da frente, como carne para canhão.

Numa guerra é o lado dos inocentes que mais perde e sofre. O João és tu. O Gonçalo sou eu.

E para alguns, somos nós os culpados.

Da próxima vez que usarem esses vossos argumentos levianos para escamotear a culpa de Putin e da sua vil matilha de carniceiros, tenham vergonha e decoro.

E tenham medo também! É que os próximos a morrer, trespassados pelos estilhaços das bombas enviadas por quem nos vem “salvar”, podem ser os vossos filhos.