Opinião

Os patriotas na república das bananas

13 nov 2025 16:39

O problema é exaltar o patriotismo na nossa República das Bananas. Porque não diz a “gota com a perdigota”

Ser patriota é legítimo. Desde que não se confunda com “nacionalismo balofo”. Um identifica-se com um espaço, uma língua e um passado. O outro, para além disso, cria narrativas exaltadoras e vive de inventar “histórias” para fazer caber a História à sua medida.

Acho curioso ver o “nosso patriotismo”. Onde se fala, ainda, de um povo heroico, forjado nas antemanhãs de um qualquer desígnio celeste, cheio de heróis e santos, de homens predestinados (e mulheres, já agora!), sempre batalhadores, sofredores também, guiados pela paixão, com sabedoria e vontade sem limites, resilientes (como hoje tanto se diz!).

O problema é exaltar o patriotismo na nossa República das Bananas. Porque não diz a “gota com a perdigota”. E isso irrita-me!

Há lá maior contradição para todos nós, “patriotas”, que permitir que a riqueza do país saia para fora?

Como se pode ser patriota quando se permite alienar a “sócios” estrangeiros um bem que é de todos nós: a produção e rede de energia? E quando se vende um bem público, as barragens, sem contrapartida para as populações?

Foram seguramente patriotas os que desmantelaram uma das melhores empresas nacionais, de nível internacional, a Telecom. Tão patriotas que até os seus gestores foram condecorados pela Presidência pelos “altos e relevantes serviços prestados”;

São patriotas todos os que não se importam de concessionar a gestão de águas a empresas privadas, na totalidade nas mãos de estrangeiros. Os lucros de um bem que devia ser inalienável (a água), escorre-nos entre os dedos, lá para fora;

Foram patriotas os gestores que endividaram ainda mais a TAP, criando empresas subsidiárias ruinosas;

São ainda patriotas todos os que colocam lucros em offshores para não pagarem impostos cá dentro. Chama-se a isso “poupar”.

E, depois, tudo se justifica. Tudo é legítimo e natural numa sociedade de mercado, global, sem fronteiras,

Dar o exemplo da Alemanha e da Holanda (para já não falar nos países nórdicos) e de como patrioticamente os seus Estados garantem nas suas mãos sectores económicos que consideram vitais e inalienáveis, isso não interessa.

Basta ainda ver como o “patriota” Estado português é dos que menos investe por essa Europa fora em habitação social, nessa ideia que o Estado deve também aí estar quietinho e não “afetar o mercado”. Omitem-se deliberadamente, mais uma vez, os exemplos da Alemanha e da Holanda e das suas políticas públicas de habitação.

Este é o nosso “patriotismo”: com uma mão saudamos D. Nuno Álvares Pereira, com a outra vendemos-lhe a espada.