Editorial
Nas trincheiras da maternidade
Talvez a maternidade seja mesmo a missão mais complexa de todas. Não precisa de obuses, nem de camuflados. Mas exige coragem, resiliência e a capacidade de nunca desistir
Há algo de ternurento, mas também inspirador, nas histórias de mulheres que dividem o seu tempo entre o ruído dos motores dos aviões de guerra, as explosões das bocas de fogo da artilharia e o silêncio doce de um beijo de boa noite. O que estas mães militares revelam no trabalho de abertura deste jornal, mais do que estatísticas ou patentes, é a coragem e a determinação de viver entre dois mundos, com entrega total a ambos.
Raquel, por exemplo, é mãe solteira e primeiro-sargento, mas também é base: para o filho, para os camaradas de caserna, para si mesma. O seu pequeno Simão nasceu praticamente entre hangares e turbinas, e aprendeu desde cedo que a vida pode ter regras militares, mas, ainda assim, ser cheia de afecto.
Ana, com os seus três filhos e um marido também militar, conhece a arte do equilíbrio como poucos. Planeia a logística familiar com mestria e rigor mas guarda sempre espaço para o improviso, para as saudades curadas com visitas pontuais num qualquer país de missão, com os revigorantes abraços que lhe chegam de longe.
Iolanda carrega no corpo o ritmo físico do Exército e no coração a suavidade dos filhos que crescem a observar a farda que lhes impõe respeito e orgulho. Já Diana, ainda no início do caminho, vive a descoberta da maternidade como um novo quartel de emoções - mais silencioso, mais íntimo, mas nem por isso menos exigente.
Estas, como tantas outras mulheres que juram um dia dar a vida pela Pátria, não pedem reconhecimento. Elas vivem. E vivem com uma força que não grita, mas que sustenta. Mostram-nos que o amor de mãe tem muitas formas e que pode marchar, pilotar ou disparar ordens, sem nunca deixar de acarinhar e embalar.
Talvez a maternidade seja mesmo a missão mais complexa de todas. Não precisa de obuses, nem de camuflados. Mas exige coragem, resiliência e a capacidade de nunca desistir. Mesmo quando a distância se impõe e o coração aperta.
Estas mães de farda são, antes de tudo, mulheres que escolheram caminhos duros sem nunca abandonar a nobre missão de cuidar. E isso, por si só, já é uma vitória e uma conquista digna de louvor.