Opinião
Moldar o Vale do Conhecimento
Precisamos de uma visão para a região, que alavanque o ecossistema como a Startup Leiria, Nerlei, Cefamol, Centimfe têm tentado
Entre Leiria e Marinha Grande moldaram-se, durante décadas, peças que viajaram pelo mundo. Mas as “placas tectónicas” da economia mexeram-se e a velha engrenagem range. É aqui que surge o “Full Stack Valley”: uma faixa que vai do norte de Lisboa a Pombal onde se concentram, porta ao lado, todas as fases de criação de valor – ideia, design, protótipo, produção, marketing e internacionalização. Um parque integrado que reduz dependências externas e encurta cadeias de abastecimento.
Os obstáculos são conhecidos: transição para veículos elétricos, pressão de custos, concorrência asiática, regras de sustentabilidade cada vez mais exigentes e, sobretudo, falta de gente com novas competências digitais. A resposta não pode ser um remendo; tem de ser um plano sistémico que atraia talento, requalifique trabalhadores e puxe as PME para a indústria 4.0.
Num “stack” completo cada etapa devolve feedback imediato à anterior. Assim se acelera a inovação e se estanca o ciclo vicioso de estagnação. Mas visão sem execução é miragem - precisamos de métricas, calendários, quotas de investimento privado e uma plataforma regional de capital de risco. Urge diplomacia económica em Bruxelas; o mercado europeu continua fragmentado e o dinheiro para crescer é escasso.
Precisamos de uma visão para a região, que alavanque o ecossistema como a Startup Leiria, Nerlei, Cefamol, Centimfe têm tentado. Bilbau lembra-nos que é possível mudar o destino. A cidade basca aliou indústria pesada, arquitetura emblemática e cultura, e colheu um novo ciclo de prosperidade, baseada em indústria de alto valor acrescentado, ciência e inovação.
Leiria-Marinha Grande não precisam de um Guggenheim, mas devem valorizar o que têm – engenharia de precisão, centros de ensino, costa, pinhal – e somar ciência, arte e qualidade de vida. Talento qualificado escolhe lugares onde também quer viver. Diversificar é mandar pó à ferrugem: embalagens inteligentes, dispositivos médicos, agrotech, defesa europeia e fazer algo que Leiria não está habituada – atrair grandes empresas de I&D, avançadas em tecnologia para o território - não podemos ter medo da concorrência porque um ecossistema vive de empresas que competem e colaboram, e um bom ecossistema atrai ainda mais talento.
Cooperar para competir – partilhar know-how na base e disputar clientes no topo – dará escala às PME. Tudo isto pede moldes, metalomecânica, tecnologias avançadas de produção, software e novos materiais. ESG deixou de ser moda: quem não reportar carbono ficará fora da cadeia de fornecimento. Precisamos de oxigénio financeiro. Sem capital de risco a inovação sufoca. Atraiam-se fundos para hardware e biopolímeros, convertendo fábricas vazias em aceleradoras. Devemos ainda comunicar a ambição - para todos seguirmos na mesma direção.
Texto escrito segundo as regras do Novo Acordo Ortográfico de 1990