#Make Empathy Great Again

Quem tem filh@s adolescentes em casa, certamente já se deparou ver sites de bugigangas para tudo e mais alguma coisa e que fazem as delícias palermas e imberbes desta fase da vida, quando ainda achamos que a felicidade são coisas que se compram com dinheiro e para prazer imediato. Um destes dias, no meio das t-shirts de K-Pop e de Funkos, ou de pulseiras de pé, deparei-me com uma t-shirt que dizia: Make Empathy Great Again… confesso que fiquei tentada a comprar umas quantas, para usar em caso de emergência e para oferecer por aí ao desbarato, como um comprimido de ação imediata para a ternura. 

Ontem de carro no meio de uma fila que nunca mais acabava, dei passagem numa rotunda da cidade a um homem, que ao volante, em vez de me agradecer, abanou a cabeça em tom reprovador… há dias, em Coimbra, vinda de um lugar que não se deseja a ninguém, fazia inversão de marcha, e novamente um homem ao volante, certo da mulher perigo constante, apitou-me veemente e de cabeça de fora destilou rancor, qual fosse eu uma criminosa de guerra… dirá mais deles do que de mim.

Outro dia num momento muito bonito de partilha sobre livros, e sobre pessoas e sobre os temas fraturantes que nos ensombram hoje, conheci um ex-sem abrigo. Um senhor com idade para ser meu pai, de delicadeza e generosidade gratuitas. Que sabia estar, falar e que com um sorriso se abria às suas vulnerabilidades, com a força de quem também não desiste para as tentar vencer. Uma gratuitidade hospitaleira, genuína e educada. 

Fazemos campanhas, greves e manifestações para tudo e mais alguma coisa… ora para recolha de alimentos, ora para sustentabilidade, ora para mobilidade, ora para não abrir ou ora para não fechar, ora para hábitos de leitura, ora para anti-tabagismo, para saúde ou nutrição, ora para os cuidados no mar, e tantas mais que agora não me estou a lembrar… tantas ou mais quantas as bugigangas dos sites de bugigangas.

E campanhas para a empatia? E para o abraço que é preciso? E para um sorriso ou para um olhar atento sobre o outro? E sobre a solidão? E sobre ampliar o coração? Campanhas para pôr uma música feliz, alto e bom som no carro de manhã, na fila interminável para o trabalho ou para a escola dos miúdos? Ou de abraçar o vizinho no autocarro? Sobre voltar para trás para ajudar alguém que vai carregado? Campanhas sobre rebolar na areia com os nossos e com estranhos e rir até não poder mais…

Campanhas sobre contar e colecionar os “bons dias e os sorrisos que conseguimos devolver”, quando vamos a um lugar lotado… qual caderneta de cromos, em que queremos mais num processo inacabado? Campanhas sobre olhar por dentro dos olhos e como diria a Valter Hugo Mãe, conseguir ver a paisagem a arder antes de estar tudo queimado? Pois… Um comprimido eficaz para a empatia, por dia… nem sabemos o bem que nos faria! 

Texto escrito segundo as regras do Novo Acordo Ortográfico de 1990