Opinião

Mais vale remediar que prevenir?

21 ago 2025 16:37

Se os terrenos não são limpos porque não se conhecem os seus donos, ou os seus donos se recusam a limpá-los, tomem-se atitudes legislativas para que isso deixe de ser motivo

Os provérbios encerram uma sabedoria enorme e muito certeira. Mais impressionante ainda é saber que existem há já largo tempo, bem antes de todo o conhecimento científico que hoje temos, e continuarem a ser tão certeiramente acertados. Todos, ou quase todos… Deste, que bem conhecemos, começo a ter dúvidas. Basta olhar à volta.

O País atravessa mais uma vez o flagelo terrível dos incêndios. É algo comum à bacia mediterrânica, e a zona da Grécia é a pior da Europa. Sabemos isso. Há já vários anos. Todo o ano. E nada se faz. Para além de remediar. E perdem-se vidas. E recursos. Vários. Com enorme prejuízo para todos. No imediato, e a longo prazo. Porque os recursos que se direcionam para apoiar quem mais precisa, e muito bem porque é assim que tem que ser, podiam ser usados para outros fins, úteis para todos e com menos sofrimento e perdas.

Em 1988, em Yellowstone, Estados Unidos, ocorreu o maior incêndio deste enorme parque natural. Tal drama foi importantíssimo para aprender sobre a ecologia dos fogos. Todos os anos este parque tinha pequenos fogos, rasteiros e rápidos, que, depois de ter passado a parque natural, eram imediatamente debelados pelas equipas florestais, “protegendo” o parque. Alguns anos depois ocorreu este incêndio devastador. E aí percebeu-se que, afinal, esses pequenos fogos anuais eram saudáveis, faziam parte da sua ecologia natural.

Na verdade, o que faziam, de forma natural, era controlar a vegetação rasteira, evitando que crescesse até às copas das árvores, que foi o que tornou o fogo de 1988 incontrolável. Em Portugal, há uns anos atrás, as povoações “desbastavam” o mato das florestas para usarem nas lareiras e nas “camas dos animais”, e com isso a vegetação rasteira não crescia até às copas das árvores.

E suponho que estes fogos frios também aconteceriam, e seriam igualmente saudáveis para este nosso ecossistema, onde limpar os matos era uma parte essencial. Sabemos isto tudo. Mas não o aplicamos. Porquê? Não sei. Sei que seria possível evitar estes incêndios devastadores, ou que pelo menos seriam menos devastadores, se os matos fossem limpos todos os anos.

Se os terrenos não são limpos porque não se conhecem os seus donos, ou os seus donos se recusam a limpá-los, tomem-se atitudes legislativas para que isso deixe de ser motivo. Em ano de eleições autárquicas, seria uma medida interessante de ver em todos os programas. Idem para as demais eleições. Mais importante ainda seria vê-las transformadas em medidas efetivas. Para bem de todos. 

Texto escrito segundo as regras do Novo Acordo Ortográfico de 1990