Opinião

Letras | Gramática da Fantasia - O Valter, o Hugo Mãe, que me conquistou

27 ago 2021 20:00

Gostava muito de vos confidenciar de por onde ando esta semana, no preciso momento em que vos escrevo ou quando lerem este texto

Não o farei por agora, pois partilharei a seu tempo a transformação em mim operada por esta aventura. Afianço-vos apenas que conta histórias e memórias e laços e afetos, tendo em conta o território e os locais de encontro com as pessoas e com lembranças que vale a pena guardar.

Também um pouco como o livro que li recentemente e no qual me embrenhei de forma intensa e por vezes divertida. Ali encontrei memórias daquelas que poderiam ser também as minhas, como a aldeia, o campo, os avós, ou o mar… as bolachas de sortido fino embrulhadas em papel de prata colorido e que em casa da minha avó se guardava para dias de festas e muitas vezes de tão guardadas só para dias de festas, sabiam a mofo ou a naftalina e o ranger do chão da sala onde estavam guardados e até o tilintar da boleira ou protesto em abrir do velho louceiro construído pelo pai do meu avô.

Nas memórias encontramos cheiros, sabores, sons e pequenas frases de coisas que nos constroem e fazem de nós aquilo que somos, que nos acompanham vida fora e provavelmente intuem o caminho que faremos caminhando.

Foi o primeiro que li do Valter Hugo Mãe, pelo menos com um cunho editorial um pouco mais “crescido”.

São vários os livros que lhe admiro e que guardo como referências, alguns que até já me teriam servido já de mote para projetos diversos. Falo-vos de Rostos, O Paraíso São Os Outros e As Mais Belas Coisas do Mundo, ou Serei o Teu Refúgio.

Desta feita arrisquei no mais recente livro do Valter… permito-me falar assim, porque depois de o ler passei ainda a admirá-lo mais não só pela escrita deliciosa, uma prosa poética encantadora, mas porque parece que o conheci deste sempre. Está é uma porta que o autor nos abre para a sua intimidade, para a sua infância e juventude… uma porta escancarada para muitos esqueletos guardados no armário e que raramente partilhamos com alguém e é um abrir-se corajosamente para o outro, o leitor, o que compra o livro e que sorve cada palavrinha do que lê. E é precisa tremenda coragem para escrever e expor as nossas fragilidades sabendo de antemão que a perceção que os outros terão de nós será completamente diferente após a leitura…

É um livro de memórias, de histórias, de partilha de si e de uma infância conturbada, intermitente, alternando entre momentos ora angustiantes, ora felizes, descritos também com uma fluidez ora intimista, ora bem disposta.

Li-o em menos de uma semana, interrompida muitas vezes pelos compromissos de mãe, tendo entretanto e à boleia deste tendo comprado A Desumanização para começar um destes dias.

Falo-vos de Contra Mim, o mais recente do Valter, o Hugo Mãe, que me conquistou do princípio ao fim e de que gostei muito.

Boas Leituras!

Texto escrito segundo as regras do Acordo Ortográfico