Opinião

A urgência da qualificação e da atratividade profissional

27 set 2025 10:24

Muitos jovens não veem no turismo uma carreira de futuro. E não é difícil perceber porquê: horários longos, salários baixos, fraca valorização social

Não é de hoje que ouvimos falar da falta de pessoas para trabalhar no turismo. Se há vinte anos esta carência era sobretudo sazonal, hoje o cenário mudou. O turismo português consolidou-se, diversificou a sua oferta e tornou-se uma atividade que dura o ano inteiro. E, por isso, a urgência de ter mão de obra qualificada é uma questão de sobrevivência para as empresas, para os territórios e para o país.

O problema, porém, não se resolve apenas com mais rececionistas ou empregados de mesa. O turismo moderno precisa de gestores competentes, de técnicos de qualidade, de especialistas em recursos humanos, de profissionais de contabilidade e finanças capazes de lidar com empresas cada vez mais complexas. O turismo necessita de pessoas que dominem o marketing digital, sustentabilidade, inovação. Sem esse tecido qualificado, os hotéis, as agências, os operadores e as autarquias não conseguem responder às exigências de mercados globais cada vez mais competitivos.

As oportunidades estão aí. Abrimos novos hotéis quase todas as semanas, multiplicam-se unidades de alojamento local, crescem empresas de animação e de eventos. Mas muitos jovens não veem no turismo uma carreira de futuro. E não é difícil perceber porquê: horários longos, salários baixos, fraca valorização social.

As empresas apontam a escassez de candidatos, mas importa reconhecer que também contribuíram para este cenário. Durante anos viveram de mão de obra barata, de contratos precários e da ilusão de que o entusiasmo pelo contacto com turistas compensaria todas as falhas. Essa lógica esgotou-se. Hoje, sem oferecer condições dignas, não se atraem nem se retêm trabalhadores.

A solução passa por três eixos claros. Primeiro, profissionalização: investir em formação contínua, certificação e especialização. Segundo, condições dignas: salários ajustados à exigência e flexibilidade nos horários, sem os quais não se retém talento. Terceiro, integração de competências transversais: ligar o turismo à gestão, aos recursos humanos, à qualidade, à sustentabilidade e à inovação.

O turismo é estratégico para Portugal. Representa mais de 15% do PIB, garante milhares de empregos e é um dos principais motores da coesão territorial. Não se trata apenas de servir turistas: trata-se de sustentar comunidades, preservar património, dar vida a aldeias, vilas e cidades. Mas, para isso, é preciso atrair talento e dar-lhe perspetivas reais de carreira. O turismo português já não pode viver apenas do sol e da simpatia. Precisa de gente bem preparada e, sobretudo, valorizada. Caso contrário, arrisca-se a perder aquilo que conquistou: ser um setor central, não apenas para a economia, mas para o próprio futuro do país.

Texto escrito segundo as regras do Novo Acordo Ortográfico de 1990