Editorial

A culpa foi do lixo

26 jan 2023 10:16

Que mais será preciso fazer para que todos assumam e compreendam que a melhor forma de evitar os incêndios é mesmo a prevenção?

Ficámos a saber no início desta semana que o Ministério Público (MP) arquivou o inquérito ao incêndio florestal que deflagrou em Julho do ano passado na Caranguejeira e alastrou a outras freguesias do concelho de Leiria, causando a destruição de mais de 2.800 hectares de floresta e prejuízos materiais estimados em cerca de 3,8 milhões de euros.

No despacho de arquivamento, o MP explica que após análise da prova recolhida - nomeadamente a inspecção judiciária efectuada no local, o depoimento da pessoa que deu alerta para o fogo e o exame feito pela GNR – foi possível concluir “que o incêndio não teve origem em qualquer acção humana dolosa ou mesmo negligente”.

Mais. No mesmo documento, é dito que as diligências investigatórias permitiram apurar que as chamas deflagraram junto de uma estrada de terra batida, com intersecção da rua da Serrada, “local onde se encontrava depositada uma grande quantidade de material combustível, designadamente inertes florestais e lixo, entre os quais vidros e latas, tudo indiciando ter sido este material que deu origem ao incêndio”.

Ou seja, a culpa foi do “processo químico desencadeado pelas condições climatéricas que se faziam sentir naquele dia, com os materiais combustíveis existentes naquele local”, e nunca de quem lá depositou ou nada fez para retirar esse mesmo lixo, apesar dos constantes avisos para a limpeza da floresta e do inferno que o País vive, ano após ano, com os fogos florestais.

Sabemos que, neste processo, aos investigadores e ao MP cabia apenas determinar se o fogo tinha sido causado por mão criminosa ou negligente, de forma directa. Mas vale a pena não esquecer que também há incêndios provocados de forma indirecta – como parece ter sido o caso – devido a comportamentos desleixados e de pouco ou nenhum respeito pelo bem comum, como são os despejos de resíduos nos nossos pinhais e zonas de floresta.

Que mais será preciso fazer para que todos assumam e compreendam que a melhor forma de evitar os incêndios é mesmo a prevenção?