Sociedade

Profissionais do hospital de Leiria estreiam espectáculo criado durante a pandemia

17 mar 2022 14:16

'Lavado a seco' estreia amanhã, às 21:30 horas, no Teatro Miguel Franco. A entrada é livre.

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Redacção/Agência Lusa

Catorze profissionais de saúde do hospital de Leiria, entre enfermeiros, fisioterapeutas ou assistentes operacionais, estreiam amanhã um espetáculo criado nos últimos meses para aliviar o stress do combate à pandemia. ‘Lavado a seco’, uma peça de teatro que integra dança e música, nasce do projecto Unidos pela Arte, promovido pela Sociedade Artística Musical dos Pousos (SAMP), de Leiria, para proporcionar momentos de descontração e relaxe a quem lida directamente com a Covid-19.

Uma vez por semana, depois do trabalho, dezena e meia de funcionários do hospital juntam-se em aulas de teatro, dança ou música. Desse encontro nasceu a vontade de criar algo para mostrar à comunidade, explicou a professora da SAMP e encenadora, Laura Perdomo. “Nas aulas de teatro eles foram fazendo improvisações, para contarem a experiência deles lá dentro [no hospital].

Às histórias que foram trazendo, juntou-se a música e a dança e criámos um espectáculo. E tem sido um espetáculo o empenho e entusiasmo deles. Parece que estamos a trabalhar com actores profissionais”. Nesta experiência de palco, os anos de prática hospitalar têm-se revelado importantes no exercício dramatúrgico. “O teatro é muito stress: é preciso decorar movimentos, decorar texto, viver a coisa. No fundo, vai ao encontro do que estas pessoas fazem no dia-a-dia.

Têm de ter os sentidos todos apurados para lidar com tanto stress e apanham tudo muito rápido. E têm de improvisar muito, também”, contou a encenadora. Luís Miguel, enfermeiro-chefe da Ortopedia II, é um dos trabalhadores do hospital de Leiria que faz parte do elenco.

Em Unidos pela Arte, revelou-se “um grande contador de histórias”, recordou Laura Perdomo. “Conta muito bem as histórias e quando chega ao ensaio tem sempre uma para partilhar”.

O exemplo do enfermeiro é central no argumento de ‘Lavado a seco’, que se passa na lavandaria de um qualquer hospital. Lá, todos esperam com ansiedade a chegada do encarregado da recolha da roupa - que é também um contador de histórias.

“São situações que acontecem em ambiente clínico, umas caricatas, outras dramáticas, da nossa profissão”, contou à Lusa Luís Miguel. Depois, acrescentando “uma fantasia ou outra” e com a mestria da encenadora, montou-se o espetáculo. “Dá-nos gozo, porque estamos a viver situações que nos aconteceram”, acrescentou.

Com larga experiência profissional, o enfermeiro-chefe de 63 anos cumpre o sonho de trabalhar em teatro, num desafio que ajuda a aguentar a pressão provocada pela pandemia e pelo aumento do volume de trabalho. “Desde esta situação da Covid que as coisas se complicaram muito. Andámos no limite mesmo. Passámos por situações muito difíceis”, recordou.

Unidos pela Arte é, por isso, como “uma terapia”: “Saímos daqui do hospital acelerados e chegamos lá [aos ensaios] e relaxamos. Estou a adorar”, confessou Luís Miguel.

Andreia Correia, 41 anos, também vai subir ao palco do Teatro Miguel Franco, em Leiria, na peça ‘Lavado a seco’. Responsável pela Comissão de Humanização do Centro Hospitalar de Leiria, Andreia salientou a importância de Unidos pela Arte. “Era notório que precisávamos de um escape e de fazer a promoção da saúde mental”.

O projecto vai funcionar até Dezembro. Mas, na véspera da estreia, Andreia faz já um balanço bastante positivo: “Toda a gente ficou a ganhar. Ansiamos que vá para além de Dezembro. Queremos montar outros espetáculos”. Laura Perdomo gostava de levar ‘Lavado a seco’ em digressão, porque, “o que começou como uma brincadeira, ficou uma coisa muito coesa”. Mas, acima de tudo, a encenadora impressionou-se com a humanidade revelada pelo grupo de profissionais de saúde, que encontraram nos ensaios oportunidade para relaxar, desabafar, partilhar e até, por vezes, chorar. “Há pessoas a trabalhar na saúde que têm grande humanidade.

A profissão está na alma, eles vivem com isso. São pessoas muito especiais”, concluiu a encenadora.