Sociedade

Peniche evoca Guerra das Espoletas, a revolta que travou a proibição da pesca

12 nov 2025 11:46

Os 90 anos da revolta serão assinalados, este sábado, com roteiro ao locais da luta e do assassinato do pescador

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Peniche há 90 anos
DR

Os 90 anos da ‘Guerra das Espoletas’, a revolta popular travada a 13 de Novembro de 1935, em Peniche, contra a proibição da pesca com espoleta, vão ser assinalados, no sábado, dia 15.

Para evocar a data, a Associação de Amigos do Museu Nacional Resistência e Liberdade – Fortaleza de Peniche e a União de Resistentes Antifascistas Portugueses organizam um roteiro aos locais onde decorreu a revolta e o assassinato de um pescador.

Em 2021, num trabalho sobre os 100 anos do PCP no distrito, João Neves, dirigente comunista e estudioso da história local associada à luta contra o regime, contou ao JORNAL DE LEIRIA que na origem da revolta esteve uma decisão da capitania de proibir, durante um ano, a pesca com uso de espoleta – técnica de pesca ilegal que implicava a utilização de dinamite para atordoar os cardumes.

Essa decisão, tomada na sequência de um acidente associada à utilização da espoleta, motivou a revolta da população, com destaque para os pescadores e suas famílias. “A restrição abrangia cerca de 70% dos barcos e 62 mestres foram condenados a quatro meses de prisão”, recordava João Neves

No dia do motim, a multidão ocupou o Largo Jacob Rodrigues Pereira, onde estavam as camionetas para levar os mestres para a cadeia, gritando as palavras de ordem: “Sem pesca não há pão”. “Os sinos tocaram a rebate. As escolas e o comércio fecharam e as conserveiras adiram à luta. Formou-se uma barricada para impedir a saída das camionetas. A repressão da GNR é grande. Há tiros disparados. Um pescador – Francisco Sousa – morre. Vêem reforços militares de fora”, relatava João Neves.

A revolta foi contida e a polícia do regime prendeu 45 pessoas, mas o descontentamento continuou e o Governo acabou por ceder. Tanto os mestres como os revoltosos foram libertados e os barcos autorizados a ir ao mar, iniciando-se ainda a construção do molhe Oeste, “uma reivindicação antiga dos pescadores”.