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Leirena estreia no Funchal a produção O Globo de Saramago - 1993

24 mar 2022 08:28

Monólogo interpretado por Frédéric da Cruz Pires, com música ao vivo de Surma, decorre no interior de um globo de plástico

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O Globo de Saramago - 1993 integra a programação do Festival Amo-Teatro
Carlos Gomes

“O Homem é o único ser vivo que tortura outro ser vivo”, diz ao JORNAL DE LEIRIA o director artístico do Leirena, Frédéric da Cruz Pires. O aforismo surge a propósito da peça O Globo de Saramago – 1993, que a companhia de teatro de Leiria faz estrear esta quinta-feira, na ilha da Madeira. O espectáculo inspirado na obra do único Prémio Nobel da Literatura português provoca uma comparação imediata com o que está acontecer, actualmente, na Europa, na sequência da invasão da Ucrânia pela Rússia.

“É igual”, realça o encenador, que será o único actor em palco, logo à noite, no Teatro Municipal Baltazar Dias, no Funchal. “Há guerras em todo o mundo. Agora está mais presente porque está nas portas da Europa. Dá-me ainda mais força, alimenta-me, porque essa é a arma de um artista: usar a arte como ferramenta de paz”.

Desenvolvido ao longo de um ano, o monólogo em três actos dá corpo a uma história negra, e dura, embora habitada por esperança.

“Nunca a certeza de mortos evitou uma guerra”, escreveu José Saramago em O Ano de 1993, livro de poesia – em que Saramago “quebra todas as regras”, elogia Frédéric da Cruz Pires – que serve de ponto de partida para a nova produção do Leirena, sobre a vida de um homem numa cidade ocupada pelo exército invasor. “Episódios aterrorizantes”, com peste e contagens nocturnas, no contexto de um conflito armado “onde os escrúpulos não são prisão”.

“O mundo lentamente caminha para uma realidade distópica”, refere a nota de divulgação do Leirena, que salienta que em O Globo de Saramago – 1993 o jogo teatral acontece dentro de um globo insuflável, um dispositivo a que a companhia de Leiria já tinha recorrido anteriormente, na produção O Globo de Sophia, para permitir trabalhar durante a pandemia. No espectáculo, “o objeto cénico” transforma-se “num casulo de situações melancólicas, intensas e íntimas, onde prevalecem os pensamentos e tentações de um homem insatisfeito que habita dentro da sua própria caverna”.

Surma assina a sonorização de O Globo de Saramago (Foto de Carlos Gomes)

O Globo de Saramago – 1993 integra a programação do Festival Amo-Teatro e conta com música ao vivo de Débora Umbelino (Surma). É uma criação do Leirena em co-produção com a Fundação José Saramago e com a Leiria Cidade Criativa da Música Unesco.

Depois do Funchal, a peça será apresentada no Teatro José Lúcio da Silva, em Leiria, a 18 de Junho. Outras datas já confirmadas incluem Serpa, Beja, Covilhã e Lisboa.