Sociedade

Giovanni Fortese: "É absurdo Leiria não saber aproveitar o roteiro de milhões de pessoas que vão a Fátima"

2 fev 2017 00:00

O empresário italiano criou um império de 26 pizzarias a partir de Leiria.

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Como é que veio parar a Leiria?
Vim de férias para a Nazaré, no ano de 1994. Depois comecei a gostar, vi que não havia pizzarias como as italianas, comecei a ver a possibilidade... Em 1996 abri um pequeno espaço [em Leiria] e em 2001 a primeira Mr. Pizza no [centro comercial] D. Dinis.

Em 1994 que idade tinha?
24.

Mas apaixonou-se cá? O que é que aconteceu?
Eu jogava futebol [em Itália, nos escalões regionais] e tinha tido um acidente de carro. Já não podia exercer aquela profissão, o futebol acabou. Comecei a trabalhar numa fábrica e a ver a possibilidade de criar algo meu. Voltei em 1995 para fazer férias na Nazaré outra vez, e fiz amigos, que me ajudaram no primeiro espaço aqui. De 1996 até 2000, ia e vinha, porque mantinha ligação a Itália, de trabalho.

Em Itália tinha uma vida boa?
Sim, estava bem.

Custou-lhe a decisão?
Custou, no princípio, a parte afectiva, família, amigos, é normal. Mas voltava a cada dois meses. Nunca cortei os laços.

E o que é que o convenceu a apostar em Leiria?
O cumprimento de um objectivo a que me tinha proposto, de ter um negócio próprio, tentar expandir a marca.

Novara é muito diferente de Leiria?
Tem hábitos culturais diferentes. Por exemplo, aqui acho que se vive ainda pouco a cidade, no sentido de passear no centro, na rua, comer uma fatia de pizza, um gelado. Em Itália é uma coisa normalíssima, aqui vai-se muito aos centros comerciais. Outras diferenças? O ritmo. A minha cidade é muito mais stressante, o trabalho está em primeiro lugar. Aqui talvez já passe a segundo, consegue-se aproveitar mais a vida.

Os seus pais estavam ligados aos negócios, às pizzarias, alguém na família?
Não. O meu pai era sapateiro, a minha mãe fazia limpezas. Fui o primeiro.

Entre italianos e portugueses, há mais diferenças ou semelhanças?
Provavelmente há mais semelhanças. São latinos. Têm em comum o gosto de comer bem. E de beber bem, o vinho. 

E na maneira de ser?
Os italianos são mais alegres.

O que é que falta no centro da cidade, em Leiria, para melhorar a qualidade de vida e o negócio do comércio tradicional?
A mentalidade das pessoas e mesmo dos próprios lojistas. Muitas vezes criam-se entraves que não facilitam ter mais gente no centro da cidade. Faz falta outra mentalidade por parte dos comerciantes. Têm de trabalhar mais em conjunto, mas também repetir iniciativas como o Shop On e ter a mentalidade de que é preciso trabalhar, no sentido em que se uma família quer dar uma volta ao domingo no centro da cidade, e está tudo fechado, não volta. Mais iniciativa, alargar o horário, adaptar o horário à forma de viver das pessoas. É este tipo de mentalidade, de centro comercial de rua.

E as pessoas, também têm de ir mais ao comércio tradicional?
Acho absurdo que quando há dias internacionais, como o Dia Sem Carros, fecham-se as ruas e o centro da cidade está cheio de pessoas. E não entendo porquê o medo de se fechar ao trânsito, o medo de que vai criar problemas no comércio tradicional. Para mim é ao contrário. Dou o exemplo de Itália, que é o que conheço melhor. Em Itália, todas as cidades têm zonas pedonais no centro. Isto era uma mais-valia, criava-se o centro como se fosse um parque, onde as famílias passeavam. E as lojas deveriam estar abertas.

Em Portugal, o que recomenda aos seus amigos italianos?
Essa é outra diferença entre os dois países. Estou em Leiria desde 1996 e só nos últimos quatro ou cinco anos vejo que se está a aproveitar o símbolo que é o castelo. Demorou-se muito tempo. São coisas que se podiam ter feito muito antes. Em Itália vende-se muito a própria cidade. Para mim Leiria é uma cidade muito bonita, mas não vejo publicidade em lado nenhum. Gosto muito da Fonte das Três Bicas, a Igreja da Misericórdia é espectacular. Começou-se a promoção tarde. É absurdo Leiria não saber aproveitar o roteiro de milhões de pessoas que vão a Fátima.

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