Sociedade

Fechou a última tipografia de Leiria

8 fev 2019 00:00

A funcionar há 116 anos no edifício onde Eça de Queirós trabalhou como administrador do concelho, a Tipografia Carlos Silva fechou portas no dia 31.

Fotos: Ricardo Graça
Maria Anabela Silva

O trabucar das rotativas deu lugar ao silêncio. A Tipografia Carlos Silva, a única ainda a laborar na cidade de Leiria, fechou portas. Ao fim de 116 anos de actividade, a gráfica não resistiu à redução das encomendas e à pressão do mercado imobiliário.

Ao que o JORNAL DE LEIRIA apurou, o edifício, que era propriedade da Fundação Bissaya Barreto e onde Eça de Queirós trabalhou como administrador do concelho, foi vendido a privados, que o pretendem recuperar habitação.

O último dia de trabalho da tipografia foi a 31 de Janeiro. Mas, nos dias que se seguiram ainda se manteve de portas abertas. Era tempo de informar os clientes, de arrumar as últimas contas e de libertar o espaço.

A cada canto, uma recordação. Como a primeira página do jornal A Batalha Nova, publicado em 1909, cartazes de festas e de eventos, como aquele que anuncia um passeio de automóveis antigos na cidade, ou o último trabalho executado, as rifas para o sorteio das festas dos Barreiros (freguesia de Amor), a realizar em Maio.

Vítor Ferreira, o funcionário mais antigo dos quatro que ainda ali trabalhavam, vai desfiando algumas memórias. Foram, quase 50 anos passados entre máquinas e caracteres de chumbo. Começou com 12 anos, assim que acabou a instrução primária. Iniciou-se na área dos acabamentos, mas passou por todos os sectores, incluindo a impressão manual.

“Dei muito ao pedal, até ganhar prática a pôr e a tirar as folhas. Parecia uma máquina de costura. Com o pedal, conseguíamos controlar a velocidade de trabalho. Fazia perto de mil impressões por hora”, recorda o antigo tipógrafo, que irá agora passar à aposentação.

Dos tempos áureos da actividade, Vítor Ferreira e Paulo Jorge, outro dos últimos funcionários da empresa, recordam os serões passados a terminar as encomendas ou os dias em que almoçavam ao lado das máquinas, porque “era preciso acabar trabalhos”.

“Às vezes, não podíamos parar as máquinas e comíamos ali mesmo”, recorda Paulo Jorge, que contava já com 36 anos de casa. “Comecei aos 16 e só fiz uma pausa quando fui cumprir o serviço militar. O patrão ficou à espera que voltasse e não pôs ninguém no meu lugar”, ac

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