Sociedade

Faleceu o escritor Fernando Miguel Bernardes

17 nov 2022 21:24

Autor de uma extensa obra literária, vivia há vários anos em Lisboa

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Fernando Miguel Bernardes
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Faleceu ontem, dia 16, o escritor, activista político e pensador natural de Leiria Fernando Miguel Bernardes. O velório acontecerá amanhã, a partir as 17:30 horas, na Igreja de São João de Deus, situada na Praça de Londres, em Lisboa.

O funeral está marcado para as 13:30 horas, de sábado, no mesmo local, seguindo depois, em cortejo para o cemitério do Lumiar. 

Fernando Miguel Bernardes nasceu em Gândara dos Olivais, na freguesia dos Marrazes, concelho de Leiria, em 1929. Aí realizou os primeiros estudos. Fez os estudos preparatórios de engenharia na Universidade de Coimbra mas foi na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa que veio a formar-se, em 1970, como engenheiro geógrafo.

Licenciou-se posteriormente em Matemática, "coisa de que sempre gostei", confessa. Fez um curso de pós-graduação em Cálculo Científico como bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian (1971-74), na Universidade Clássica de Lisboa. 

Foi professor do ensino secundário particular, professor do ensino superior privado, técnico superior de Sistemas Informáticos e director de departamento na Função Pública, na área da Cultura. Trabalhou em várias empresas (durante 12 anos na Lisnave).

Sofreu várias prisões antes do 25 de Abril – esteve na cadeia do Aljube, no Forte de Caxias, em Coimbra e no Porto. Foi julgado e condenado por actividades políticas nos Tribunais Plenários de Lisboa e do Porto.

Preso 6 vezes, teve duas fugas durante tentativas de prisão - fugas em que foi apoiado por amigos comunistas e monárquicos. Foi vítima de uma tentativa de assassínio, que o deixou quase morto em 1962-63 e foi avisado de uma outra, por um amigo e colega monárquico.

Depois do 25 de Abril, foi director do Departamento de Acção Sociocultural no pelouro da Cultura da Câmara Municipal de Almada.
Membro da Direcção da Associação Portuguesa de Escritores desde 1994, fez parte da redacção da revista O Escritor, da APE, como editor-chefe; participou em dezenas de antologias e em discos de Manuel Freire, Zeca Afonso e Adriano Correia de Oliveira.

É sócio efectivo da Sociedade de Geografia de Lisboa, com incidência na secção de Física Matemática e Cartografia.

É escritor. As publicações são maioritariamente livros de poesia, tendo algumas de contos. 

No campo da ficção escreveu «Docas secas», «A enfermeira Olga» ou «A imagem de Fausto», e no campo do testemunho e da narrativa histórica é autor de obras como «Escrito na cela» e «Uma fortaleza de resistência». Editado pela Mar da Palavra com ilustrações de Inês Massano, «O periquito rebelde» junta-se a outros títulos do género escritos pelo autor como «A esquadrilha de pirilampos», «Grilo e o seu violão», «Tudo gira em toda a parte», «Ser livre» ou «A menina da trança que dança». Da sua extensa obra, há dois livros que devem ser citados pela Memória e testemunho que FMB deixa: Uma Fortaleza da Resistência, Peniche — 1934-1974 (1ª edição 1991) e Escrito na Cela Fernando Miguel Bernardes - (1ª edição 1982). 

«Re Colagem» e «O fio das Harpas» integram a sua obra poética.

Cidadão multifacetado, articula política com escrita ficcionada, poesia para crianças com música e matemática: «eu penso que a poesia, a matemática e a música são três factores que não se podem desligar uns dos outros. Não pode haver poesia sem música nem música sem poesia e a matemática não existia se não fossem os poetas. Creio que o facto de ter crescido nos campos do Lis me proporcionou uma aprendizagem muito grande da Natureza, da sua envolvência, mas também da luta dos homens e das mulheres: assisti a despiques terríveis por causa de um bocadinho de terra, pessoas a matarem-se. Problemas e lutas sociais, e o Estado ou ficava de fora ou reprimia na maior parte dos casos. Toda essa vivência e depois a minha formação em engenheiro geógrafo e em matemática explicarão esse entrosamento.».

Foi distinguido com os seguintes galardões: Menção Honrosa do Prémio Rosa Damasceno (1947) Santarém, no qual Soeiro Pereira Gomes obteve o 1.º prémio. Distinção pelo Júri do Prémio Almeida Garrett de Poesia, 1957, Porto. Menção Honrosa do Júri dos Prémios Calouste Gulbenkian de Literatura para Crianças (Revelação), 1982.

Biografia da autoria de Helena Pato