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Estes malabares são feitos para caminhar

13 out 2021 18:10

Conheça o malabarista que coloriu os semáforos de Leiria, no trajecto de uma viagem que começou em Las Palmas há três anos

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É, desde há alguns dias, figura habitual nos semáforos do Leiria Plaza, a colorir com malabarismos os tons aborrecidos das filas de trânsito – “as pessoas aqui também têm direito a encontrar-se com algo que de repente lhes arranque um sorriso” – e a experienciar uma vida nómada, literalmente, com mochila, tenda, uma guitarra e o companheiro Pitxu, um cão pequeno em tamanho mas grande em fidelidade.

Sergio Dominguez, 22 anos, originário da ilha de Gran Canaria, em Espanha, encontra-se em viagem há três anos – “algo que me faz feliz, que me faz viver aventuras, que me faz conhecer pessoas maravilhosas” – e cruza-se com Leiria de passagem, entre o Porto, Coimbra e o próximo destino, que ainda não tem decidido, mas que, provavelmente, será Lisboa, onde já esteve anteriormente.

Tem atraído olhares curiosos, no encontro das ruas dos Mártires, Machado Santos e Dr. João Soares com o Largo da República, junto à Villa Portela e ao edificio da Câmara Municipal de Leiria, a contribuir para um ambiente urbano mais contemporâneo e a alinhar a cidade com a tendência de disseminação das artes de rua.

Dorme onde pode – “não considero que vivo na rua, considero que estou a viajar”, um “outro tipo de estado mental” – e adopta “uma alternativa” ao modelo casa, família e trabalho, opção que, argumenta durante a conversa com o JORNAL DE LEIRIA, lhe permite “estar em movimento” e dedicar-se ao que mais gosta quando quer e como quer.

Foto de Ricardo Graça

Um modo de existência que, apesar de tudo, implica compromisso. Sergio Dominguez chega a permanecer seis horas nos semáforos – uma, duas, três, quatro, cinco, seis, às vezes, sete bolas no ar – e junta-lhe outras três ou quatro horas diárias de treino.

“Comecei por necessidade e no final enamorei-me”, afirma. “Na verdade, quando estou triste, faço-o e fico feliz”.

Os exercícios com malabares, acredita, são bons “para a memória, para a coordenação, para aumentar a massa cerebral” e só exigem “força de vontade” e “empenho”.

Entre tutoriais do You Tube e dicas obtidas na estrada com outros malabaristas, é tudo uma questão de persistência e de amor pela arte, que quer partilhar com os outros. “É o meu pensamento onde quer que vou”.

Depois de alguns truques, e antes de o vermelho ceder ao verde, a ronda pelos automobilistas, em Leiria, depende do dia, de quem está ao volante e até da meteorologia, mas costuma dar para comer (só comida vegetariana) e para alimentar o amigo Pitxu, além dos trocos para seguir caminho, o que deve acontecer já esta sexta-feira.

Foto de Ricardo Graça

Sergio Dominguez saiu de Las Palmas em 2018 e tem circulado entre Espanha e Portugal, quase sempre a pé.

Os planos de curto prazo envolvem uma bicicleta “e viajar por toda a Europa”, depois de visitar, em Portugal, o Cabo da Roca. “Algum dia gostaria de comprar uma terra e fazer uma casita, cuidar da terra, mas por agora o meu corpo e mente dizem-me viaja que tens muito que viver e que aprender e muito que conhecer”.

De Leiria, leva no corpo uma nova tatuagem, oferecida por um dos amigos que fez na cidade.