Sociedade

Escavações revelam surpresas arqueológicas em Leiria

4 nov 2021 18:00

Dois esqueletos surpresa, um troço de calçada romana e uma moeda islâmica são alguns dos vestígios encontrados no âmbito das escavações arqueológicas em curso no largo de São Pedro, em Leiria.

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Trabalhos arqueológicos decorrem no âmbito das obras de requalificação do largo de São Pedro, iniciadas em Maio último
DR
Maria Anabela Silva

Um troço de calçada romana, um silo com peças dos séculos IX a XII, muros e fundos de cabanas da Idade do Ferro e uma moeda islâmica em ouro, são alguns dos muitos vestígios arqueológicos postos a descoberto pelas obras em curso no largo de São Pedro, em Leiria, paredes meias com o castelo.

Entre as descobertas que causaram surpresa à equipa de arqueologia responsável pelos trabalhos estão esqueletos de dois indivíduos “não europeus” entre os mais de 80 já identificados e levantados nas ossadas da necrópole associada à Igreja de São Pedro.

Desde o início da empreitada, em Maio último, os trabalhos de arqueologia preventiva permitiram detectar um conjunto de vestígios que atravessam várias épocas, desde a pré-história (Idades do Ferro e do Bronze), passando pelos períodos romano e medieval.

Das épocas mais recuadas, destaque para a descoberta de fossas de finais da Idade do Ferro, detectadas “junto ao arco de entrada no largo de São Pedro, bem como muros, fundo de cabanas com estruturas em pedras, buracos em poste e barro”, indicativas de uma “forte ocupação” do local nesse período.

De acordo com informação disponibilizada ao JORNAL DE LEIRIA pela autarquia, as escavações permitiram exumar materiais líticos, fauna e cerâmicas “de muito boa qualidade, incluindo fragmentos de importação” datados da Idade do Ferro.

Do período romano, está já identificado “um troço de calçada com caneiro”, encontrado em frente ao edifício da PSP, e “relacionado” com esse achado, existem “vários alinhamentos de muros de habitações”.

“Apesar de se encontrarem quase ao nível do alicerce, [esses muros] poderão ajudar a interpretar melhor a ocupação da zona alta de Leiria”, realça a informação camarária. Do mundo islâmico, apenas foi exumada uma moeda em ouro – um dinar almorávida do ano 1122 –, um fragmento cerâmico “com pintura a branco” e “dois fragmentos de azulejo hispano-árabe em corda seca”.

“A falta de material islâmico vem corroborar a teoria de que Leiria tem muito mais ligações ao mundo cristão do norte do que ao mundo islâmico do sul neste período da idade média”, observa a equipa de arqueologia.

No decorrer dos trabalhos foi também possível “intervencionar” vários espaços e estruturas da época medieval, entre as quais “um silo em forma de saco com cerca de dois metros de profundidade”, de onde a equipa recolheu “várias peças com formas entre os séculos IX e XII”.

Ainda da Idade Média, as escavações puseram a descoberto um troço de muralha dessa época sob o arco da torre sineira, “níveis de ocupação com fornos e níveis de combustão ligados a pequenas forjas”.

Os trabalhos incidiram também na necrópole associada à Igreja de São Pedro, da época medieval e moderna, com a identificação e levantamento de “mais de 80 indivíduos e 26 ossários com um grande número de indivíduos”, entre os quais dois “não europeus”, o que constitui uma “novidade”, realça a informação da equipa de arqueologia, transmitida pela câmara.

Os enterramentos mais recentes “são, na sua maioria, em covacho (pequena cova) sem qualquer tipo de delimitação de sepultura”, enquanto nos mais antigas “há sepulturas escavadas em sedimento argiloso com algumas peles a delimitá-las”.

Do espólio funerário, os arqueólogos destacam ainda a descoberta de “contas de terço e alguns numismas [moedas cunhadas]”.

Com a escavação ainda a decorrer e com o “grande trabalho de estudo” dos materiais exumados e das estruturas identificadas por fazer, a equipa de arqueologia aponta algumas das novidades trazidas pelos trabalhos, como “a ocupação com vestígios materiais de um período recuado como é o século IX”.

Outra “grande surpresa” é a presença de vestígios romanos e da Idade do Ferro “nesta plataforma extra-muros numa zona protegida dos ventos pelo morro do castelo”