Economia

Culturas agrícolas do Vale do Lis em risco devido a derrames de efluentes não tratados

14 ago 2025 11:47

O incidente decorreu de uma avaria numa estação elevatória em Monte Real, concelho de Leiria

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O administrador-delegado da organização afirma que, por enquanto, o impacto não é possível medir
Ricardo Graça/Arquivo
Redacção/Agência Lusa

O administrador-delegado da Associação de Regantes e Beneficiários do Vale do Lis alertou hoje para prejuízos na agricultura decorrentes da avaria numa estação elevatória em Monte Real, no concelho de Leiria, que obrigou a descargas de efluentes não tratados no rio.

“Os agricultores ficaram coibidos de poder regar [com água do rio] algumas das suas culturas - hortícolas, milho e outras - e com as temperaturas que se têm feito sentir, e com a própria temperatura que esteve ontem [quarta-feira] e anteontem [terça-feira], uma coisa sabemos, as culturas têm um decréscimo na produtividade”, afirmou à agência Lusa Henrique Damásio.

Segundo Henrique Damásio, o decréscimo na produtividade das culturas não é possível, por agora, medir.

Na quarta-feira, a Águas do Centro Litoral (AdCL) divulgou que a estação de Monte Real, que eleva efluente para a estação de tratamento de águas residuais do Coimbrão, estava “temporariamente inoperacional devido a uma avaria nas bombas que compõem o sistema de elevação”.

De acordo com a empresa, “foi accionado o sistema de descarga de emergência da estação, bem como da estação elevatória a montante (Serra de Porto do Urso)”, e as descargas ocorreram, “respectivamente, no rio Lis e numa vala de rega adjacente”.

Esta situação levou à interdição de banhos na Praia da Vieira, na Marinha Grande, onde desagua o rio Lis, e o Município de Leiria desaconselhou actividades no troço do rio Lis a jusante de Monte Real, como captações para rega, banhos e pesca.

Hoje, a AdCL assegurou que a avaria está resolvida, tendo terminado as descargas de efluentes para o rio Lis.

O administrador-delegado adiantou que “outra das questões que têm grande implicação nisto que aconteceu é aquilo que fica acumulado nas valas e em alguns terrenos”.

Para Henrique Damásio, esta é uma “situação muitíssimo mais grave do que efluente pecuário, porque o efluente doméstico não tratado tem uma série de substâncias que são muitíssimo nocivas e perigosas”.

Este responsável referiu ainda que a infraestrutura de transporte de efluentes, que é “muito pouco robusta do ponto de vista da questão das avarias”.

“Os casos em que têm acontecido interdição das praias por causa de questões relacionadas com esgoto, quer aqui, quer noutros lados, têm sido uma constante”, observou, para acrescentar ser necessário fazer evoluir as estruturas de saneamento.

Henrique Damásio salientou haver um “caminho largo a percorrer” para “não estar constantemente a criar estes prejuízos, quer à agricultura, quer ao ambiente, que é ainda um dos mais graves, quer ao turismo”.

A Associação de Regantes e Beneficiários do Vale do Lis, com 3.686 associados, compreende uma área de dois mil hectares divididos por 11 mil parcelas, desde os arredores de Leiria até à Vieira de Leiria, na Marinha Grande. As culturas preponderantes são o milho e as hortícolas.

A Agência Portuguesa do Ambiente (APA) revelou que na sequência da avaria, registada às 10:00 de terça-feira, notificou a AdCL a instalar um sistema de retenção para impedir a descarga de efluente no rio Lis.

Numa nota, a APA divulgou que notificou aquela empresa para, “além de realizar todas as diligências para reparar, o mais rapidamente possível, o sistema de bombagem associado” à estação elevatória, “instalar, com caráter de urgência, um sistema de retenção do efluente, de forma a reduzir significativamente ou mesmo impedir a sua descarga no rio Lis”.

A APA esclareceu ainda que, em articulação com o Serviço de Protecção da Natureza e do Ambiente da Guarda Nacional Republicana (GNR), “já accionou todos os mecanismos legais aplicáveis, incluindo os sancionatórios”.

A GNR de Leiria, por seu turno, revelou que está a investigar a poluição no rio Lis e que a situação tem “grave impacto na fauna e flora locais”, havendo já “evidências desse impacto com fauna morta, sobretudo peixes”.

A Câmara de Leiria reclamou a criação de uma comissão de inquérito e a garantia de “compensações ambientais e sociais”.