Covid-19

Ao telefone, a tentar conter o tsunami de novos casos

4 fev 2021 19:38

Covid-19: nova equipa criada em Leiria para detectar contactos de alto risco

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Profissionais da Valor 19 trabalham nas antigas instalações da Caixa Agrícola
Ricardo Graça

A carga de trabalho continua a crescer e cresce cada vez mais depressa. Nos concelhos de Leiria, Batalha, Marinha Grande, Pombal e Porto de Mós, a média de novos casos de infecção pelo coronavírus SARS-CoV-2 aumentou de 74 por dia na última semana de Dezembro para 308 por dia na última semana de Janeiro.

“Cada caso tem três ou quatro contactos, e é por baixo, isto dá 1.200 contactos por dia. É quase impossível”, aponta o médico Rui Passadouro, da Unidade de Saúde Pública do Agrupamento de Centros de Saúde (ACES) do Pinhal Litoral.

Para quem está desde o início da pandemia com o objectivo de travar as redes de contágio, através da realização de inquéritos epidemiológicos e da aplicação de medidas de isolamento, é como esvaziar um poço sem fundo.

Em Leiria, está a funcionar uma nova equipa para rastrear contactos de pessoas infectadas pela Covid-19, que completa o que a Unidade de Saúde Pública do ACES Pinhal Litoral – que serve os concelhos de Leiria, Batalha, Marinha Grande, Pombal e Porto de Mós – já faz desde Março.

“Há uma lista de trabalho. Cada um dos profissionais vai a essa lista de trabalho, retira um doente, faz um contacto prévio para perceber se é um surto ou se é um caso isolado e tenta perguntar e perceber como é que se criou a situação, quais são os contactantes deste indivíduo”, descreve Rui Passadouro. “Liga-se aos contactantes de forma a que eles fiquem isolados para, eventualmente, se vierem a ficar positivos, não transmitirem a doença a outras pessoas, ou seja, faz-se um corte daquela cadeia de transmissão”.

Nas antigas instalações da Caixa Agrícola, junto ao Jardim da Almoinha, um total de 27 profissionais, coordenados pela Unidade de Saúde Pública do Pinhal Litoral, dedica-se, por telefone e correio electrónico, a reconstruir as 72 horas anteriores ao aparecimento dos sintomas, ou à realização do teste, para circunscrever contactos de alto risco, fixar medidas de isolamento e cortar linhas de contágio. São emitidas determinações que, se não forem cumpridas, podem ter consequências, até legais.

De acordo com as recomendações da Direcção-Geral da Saúde, um contacto sem máscara ou viseira, a menos de dois metros e durante mais de 15 minutos é considerado contacto de alto risco.

“É muito importante para nós perceber com quem é que possa ter estado, num contacto mais prolongado ou desprotegido”, explica um das enfermeiras de serviço, numa chamada por telemóvel. “Portanto, os sintomas começaram na segunda-feira, vamos ver com quem é que esteve desde sexta-feira”.

Todos os contextos, familiares, sociais e de trabalho, são avaliados: “Vamos falar sobre o que realmente interessa, que é como se sente, com quem é que teve contactos, a evolução da doença e esta vigilância activa. Por email, vamos receber, então, os seus dados, primeiro, e depois, no final, vai receber uma lista de contactantes, que são estas pessoas que estamos efectivamente a acordar que são consideradas contactos de alto risco”. Na equipa estão enfermeiros, psicólogos, sociólogos e médicos.

A nova estrutura de rastreio de contactos de pessoas infectadas pelo coronavírus SARS-CoV-2 é uma iniciativa da Unidade de Saúde Pública do ACES Pinhal Litoral, com o apoio do Município de Leiria.

“Ainda não conseguimos dar satisfação a todos os casos novos diariamente, mas estamos a reduzir bastante", diz Rui Passadouro. "Agora, há aqui uma situação que tem de ser pensada por cada cidadão. Nós não podemos pôr na mão dos outros o nosso futuro. Cada um tem de construir o seu futuro e tem de tomar atitudes no seu dia-a-dia de forma a não contrair a doença".