Sociedade

Aldeias de Leiria e Batalha inspiram presépio

25 dez 2022 11:00

Bruno Gaspar cria figuras associadas às Fontes, Torre, Torrinhas e Reguengo

Maria Anabela Silva

As aldeias de Fontes, Torre, Torrinhas e Reguengo do Fètal, a primeira no concelho de Leiria e as restantes no município da Batalha, e os seus moradores são a fonte de inspiração para o mais recente projecto artístico de Bruno Gaspar.

Através do seu alter-ego Ti Gaspar, “um artesão das Torrinhas que foi uma vez a Lisboa e três à Nazaré”, o artista está a criar um presépio com dezenas de figuras que representam habitantes ou locais daquelas aldeias.

Neste projecto, Bruno Gaspar faz uma viagem à sua infância, passada entre as Torrinhas, onde residiu e o pais tinham um café, a aldeia vizinha da Torre e o Reguengo do Fètal, onde frequentou o infantário e a catequese.

As Fontes entram também neste itinerário pela ligação do artista a alguns moradores e pela sua envolvência em iniciativas realizadas na aldeia, como a iluminação criada no ano passado com recurso a lanternas.

“É uma viagem aos anos 80 [do século XX], com um retrato o mais fiel possível a algumas das figuras que marcaram, de alguma forma, a minha infância”, conta o criativo, de 43 anos, que através deste projecto faz uma incursão ao mundo do artesanato.

A Ti Maria dos Queijos; o “amigo Fontes” que “todos os anos vai buscar lenha para atear uma fogueira de Natal” na aldeia com o mesmo nome da alcunha; Zé Vieira, um pastor da aldeia da Torre; Joaquim Gaspar, também conhecido por ‘Joaquim das cabras’; o avô ‘Marota’ e a avó Júlia e Manuel ‘Cuco’, um homem que “sobrevivia da jorna”, são algumas figuras do presépio de Bruno Gaspar, onde estarão presentes as padroeiras das aldeias abrangidas no projecto, incluindo uma representação da procissão dos caracóis, com Nossa Senhora do Fètal ao centro.

A Pia da Ovelha, cavidade existente no Reguengo do Fètal, irá também ser recriada e servir como gruta do presépio. A nascente do Lis, nas Fontes, e a ponte sobre o rio existente na aldeia, bem com várias capelas, também fazem parte deste presépio. Num traço artístico que “remete para os bonecos de Estremoz e de Barcelos”, as peças ficarão, para já, montadas apenas em casa do autor, mas a ideia é que, no próximo ano, o presépio possa ser instalado num espaço público.

Peças com olaria da Bajouca
Filha, neta e bisneta de oleiros da Bajouca, no concelho de Leiria, Céu Pedrosa começou o contacto com o barro na infância, tal como quatro dos seus cinco irmãos.

“Aprendi com o meu avô João Pedrosa. Aos nove anos já fazia peças”, conta a artesã, que tem nos presépios um dos seus artigos de eleição. São, frisa, artigos “únicos e com significado”, moldados na oficina que montou em casa, depois do encerramento da olaria da família. “Presépio é família, onde tudo começa”, salienta, explicando, dessa forma, a sua predilecção por este tipo de artigos, que muitas vezes executa a partir de olaria tradicional da Bajouca.

“Gosto de pegar empeças antigas, como um jarro, e, a partir dela, fazer um presépio”, exemplifica Céu Pedrosa, frisando que essa é também uma forma de preservar a tradição.

“Faz parte da nossa cultura e da nossa história”, reforça a artesã, que juntamente com o filho, formado em engenharia de materiais, integra o projecto Barro na mão do oleiro, dando formação nesta área. São também momentos em que recorda os ensinamentos do avô Pedrosa.

“Punha uma tábua para que eu conseguisse chegar à roda. Quando fazia uma peça, ia mostrá-la. Muitas vezes, ele alagava-a para que eu fizesse de novo. Era uma forma de eu me aperfeiçoar, sem usar barro novo. Mais tarde, mostrava de longe”, recorda.

Presépios em movimento
Na Marinha Grande, a tradição volta a cumprir-se, com a exibição ao público do presépio em movimento de Filipe Ferreira, patente até dia 8 de Janeiro no Edifício da Resinagem, com entrada gratuita.

Composto por cerca de 1.500 figuras, algumas com mais de 50 anos, e por dezenas de peças e acessórios, o presépio ocupa aproximadamente 60 metros quadrados.

Para a edição deste ano, o autor elaborou peças novas, 30 das quais motorizadas, permitindo, assim, movimentar “mais de 150 figuras, trazendo ainda mais realismo a todo o cenário deste presépio”, cuja preparação exigiu perto de “mil horas em oficina e 97 horas de elaboração no próprio local”, descreve o autor, residente na Marinha Grande.

Abre casa para mostrar presépio

O movimento das peças é também uma das características do presépio de Manuel Fiteiro, carpinteiro residente na Matoeira, em Regueira de Pontes, Leiria, que este ano abre as portas de sua casa a quem queira ver o conjunto de figuras.

Composto por cerca de 40 peças móveis, accionadas por um motor, que faz trabalhar correias que, por sua vez, ligam aos fios de cada figura.

Carpinteiro aposentado, Manuel Fiteiro começou por criar três figuras em madeira, talhadas com recurso a uma navalha, pintadas e vestidas. Ao longo dos anos, foi acrescentando e aperfeiçoando o presépio, que já esteve exposto em vários espaços públicos como a igreja da Regueira de Pontes, o posto de turismo de Leiria e o museu da Presidência da República.

Milhares de peças nas Gaeiras, Óbidos

Presépios para todos os gostos podem ser vistos até segunda-feira, dia 26, no Convento de São Miguel das Gaeiras, em Óbidos, onde está parente uma exposição que reúne perto de 2000 presépios, da autoria de 100 artistas.

A mostra destaca-se pela diversidade dos materiais, como o barro, a casca de ovo, a madeira, o ferro, o tecido, a joalharia, a cortiça, o vidro, ou até mesmo componentes electrónicos.