Entrevista

Pedro Cortes, em entrevista: “Os benefícios públicos da floresta têm de ser pagos a quem os produz”

8 set 2016 00:00

O engenheiro agrónomo diz que “em Portugal vivemos num barril de pólvora”

Maria Anabela Silva

Pedro Cortes defende que a floresta é “muitissímo rentável”, mas, para isso, tem de ser vista numa perspectiva de “economia completa”, compensando os produtores pelas mais-valias que geram para a sociedade

Portugal está a viver mais um ano dramático em termos de fogos florestais. O que está a falhar?
Não se pode, em absoluto, evitar os fogos, que sempre existiram e que fazem parte dos ecossistemas e do mundo rural. O grande desiderato será o de evitar os incêndios descontrolados e catastróficos, como aqueles a que temos assistido. Há um conjunto de factores a ter em conta, como o clima, as ignições, o combate e a prevenção. Ao nível do clima, não há muito a fazer. Temos um clima mediterrânico, de extremos, com períodos de secura longos no Verão e precipitações altas do Inverno, e influências atlânticas, que aumentam a variabilidade inter-anual e, portanto, os imprevistos. Quanto à redução das ignições, terá de se actuar no combate ao crime e à negligência. Já se fez alguma coisa nesta matéria, mas terá de se fazer mais. Mesmo assim, existirão sempre ignições inevitáveis. Em relação ao combate, este tem melhorado. Nos últimos anos, investiu-se muito nesta área. Não me parece que se possa fazer muito mais, mas, dado o grau de perigosidade extremo do território, não podemos baixar a guarda do combate. Em Portugal vivemos num barril de pólvora, tal a carga combustível acumulada nas nossas florestas ao longo dos últimos 30 anos.

Se não controlamos o clima, se já não são possíveis grandes melhorias ao nível do combate, resta-nos a prevenção. Quais devem ser as prioridades nessa área?
É, de facto, ao nível da prevenção que muito há a fazer. A prioridade será a gestão da carga combustível em zonas estratégicas. É impossível voltar à situação que tínhamos há 40 ou 50 anos, quando se fazia o aproveitamento de toda a biomassa florestal e, em resultado disso, não havia mato, e quando os terrenos agrícolas estavam ocupados. Temos hoje muita área em processo de abandono. Em muitos casos, os herdeiros já nem sabem onde são as suas propriedades. Entra-se numa situação de terras sem dono. Há depois que ter em conta os anos e anos de acumulação de carga combustível. Já não vamos lá com acções de manutenção. São precisos investimentos mais volumosos. Sendo intervenções difíceis e caras, exige-se uma escolha muito criteriosa dessas acções e da sua distribuição pelo País. O problema é que, com o progressivo abandono, cada vez se conhece menos o território, o que dificulta a escolha dos locais a intervir e a aplicação de critérios territoriais.

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